7 de julho de 2016

Coleção Graphics Novels da Marvel (Salvat) - Vale colecionar?



Com o (re) relançamento da coleção de Graphics Novels Marvel pela editora Salvat e a possibilidade de realizar uma assinatura dos encadernados, é normal que muitos fãs ou curiosos tenham dúvida do quanto vale começar a coleção, afinal, estamos falando de 60 edições iniciais com personagens e histórias que nem sempre são tão conhecidos do grande público. Especialmente agora que a Marvel vive um ótimo período de popularidade, com uma série de filmes, produtos e jogos, há ainda mais interessados em conhecer as histórias originais dos quadrinhos que tornaram esses personagens tão icônicos.

Como é a coleção? 

A coleção Graphics Novels Marvel contém inicialmente 60 edições que apresentam histórias e arcos fechados com clássicos da 'Casa das Ideias'. Além da trama, há algumas informações adicionais, normalmente sobre os escritores e artistas que colaboraram, ou mesmo curiosidades sobre a trajetória de cada herói. Posteriormente, a Salvat anunciou uma expansão com mais 40 histórias clássicas (com marcos dos anos 60 aos 80) e mais 20 edições contemporâneas que fizeram sucesso, como a batalha entre os Vingadores e os X-men, totalizando 120 edições que quando colocadas juntas formam uma arte de Gabriele Dell' Otto (o que por si só é um dos motivos que estimulam os fãs a não perderem um fascículo). 

Apesar de uma distribuição quinzenal em bancas e livrarias nem sempre elogiada, especialmente fora do eixo de SP, um detalhe importante é que os encadernados não são lançados em ordem numérica, começando na edição 21, o que não chega a prejudicar o entendimento das histórias, só exigindo um cuidado maior dos colecionadores para não pularem edições. A quantidade de páginas nos livros também oscila bastante, com algumas edições separadas em Parte 1 e Parte 2, por exemplo.


Vale a pena colecionar?  


Acho importante ser sincero: nunca fui colecionador de quadrinhos como amigos que praticamente catalogaram suas coleções entre pastas e gavetas repletas de edições. Apesar de já ter lido e comprado eventualmente algumas graphic novels e conhecer os trabalhos mais marcantes de Alan Moore, Frank Miller e Neil Gaiman, nunca tive o comprometimento de seguir as novidades da Marvel ou da DC e, sinceramente, acreditava ser impossível conseguir entender e seguir a cronologia de quadrinhos com tantas décadas de histórias, personagens que morrem e ressurgem ou mesmo das inúmeras realidades paralelas e reinterpretações dos heróis ao longo do tempo. 

Foi esse um dos motivos que despertou meu interesse pela  coleção Graphics Novels Marvel, já que teria a oportunidade de conhecer em um encadernado de qualidade algumas das histórias que inspiraram filmes e outras adaptações, como o recentemente Guerra Civil, ou mesmo clássicos como a Saga da Fênix Negra e A Caçada de Kraven. Outro fator crucial é ter a oportunidade de ler histórias de heróis que (ainda) não são tão conhecidos, como o Doutor Estranho, Mulher-Hulk, Motoqueiro Fantasma e Pantera Negra e sair completamente do esteriótipo de que a Marvel só tem personagens coloridos, divertidos e tramas infanto-juvenil, bem longe da 'fórmula Disney' que os haters adoram apontar nos filmes. 

Mesmo com aspetos positivos há alguns pontos que poderiam ser ainda melhor na coleção, com alguns personagens que ganham mais destaque que outros, como o Capitão América, que mesmo com ótimas histórias acaba tirando a oportunidade de conhecer outros personagens. Além disso, nem sempre a introdução da trama realizada em uma página é suficiente para acompanhar a situação de todos os personagens, especialmente no complexo universo Marvel, com suas reinterpretações e reviravoltas. Outro motivo frequente de crítica e que fez algumas pessoas largarem a coleção são os eventuais reajustes de preços que nem sempre são bem explicados pela editora. Portanto, caso comece a coleção, esteja ciente que possíveis ajustes e aumento no preço poderão acontecer a qualquer momento, o que é uma vantagem da assinatura.

Dessa maneira, com pontos positivos e outros que poderiam ser ajustados, a coleção Graphics Novels Marvel é indicada especialmente para quem gostaria de conhecer as histórias marcantes da Marvel em um material de qualidade e um preço 'mais acessível'.

E a Coleção  da Capa Vermelha? 


Apesar de serem da mesma editora e lançadas quase na mesma época, as duas coleções são diferentes e, de forma geral, se complementam. A coleção da "capa preta" (Graphics Novels Marvel) apresenta histórias com arcos fechados, enquanto a da "capa vermelha" tem o foco de apresentar um personagem da Marvel em cada edição, muitas vezes combinando histórias clássicas de origem com tramas contemporâneas que mostrem a evolução dos heróis. Caso tenha possibilidade e interesse, fazer as duas coleções dará um panorama ainda melhor da editora, especialmente que na coleção "capa vermelha" há o destaque de heróis menos populares no grande público e revela surpresas nem sempre conhecidas da editora.


6 de março de 2016

Do fracasso de ArtPop ao sucesso no Oscar - como Lady Gaga alterou a imagem


A mídia e os fãs de pop adoram um renascimento. Ainda mais saboroso que acompanhar o declínio de grandes astros e ver quando eles tentam um novo posicionamento e pedem uma segunda chance para entreter as plateias globais. Esses recomeços marcam a história de quase todos os grandes nomes da música pop, como Justin Bieber que recentemente deixou a imagem de ‘garoto problema’ para cantar ‘Sorry’ e chorar no palco emocionado com a oportunidade de voltar a se apresentar em premiações. Como Lady Gaga criticou no seu vídeo Paparazzi de 2009, a ascensão, queda e ressurgimento de ícones pop é um ciclo comum na mídia. Utilizando ações e projetos estratégicos, a própria Gaga conseguiu uma segunda chance de se reposicionar no mercado musical, conquistando novos fãs e expandindo o nome para além do gueto pop que a transformou em um fenômeno na década passada. 

Por mais que os fãs batam na tecla de que o álbum seja bom ou tenha uma importância na carreira, é inegável que ArtPop resultou em uma era bagunçada, com mais promessas do que resultados concretos e uma queda de venda e popularidade nos padrões 'GAGA'. O que foi inicialmente anunciado como um álbum multimídia, com o lançamento de um aplicativo e até um possível disco duplo, por fim revelou-se um projeto com boas músicas pop, que pareciam fazer a ligação entre o pop descompromissado de The Fame com as canções de autoaceitação de Born This Way. Com evidentes problemas de planejamento e divulgação, inclusive com mudanças de membros da equipe e declarações de insatisfação da própria cantora, o que foi anunciado como uma revolução na carreira acabou passando quase desapercebido do público, com o cancelamento de clipes, singles com pouca divulgação e uma queda nas vendas: enquanto o antecessor quase bateu a marca de sete milhões de cópias, ArtPop não ultrapassou os dois milhões. Até mesmo a turnê ArtRAVE: The ArtPop Ball não foi estendida e conta com menor arrecadação que os shows anteriores da cantora. Só para comparação, no mesmo período Prism de Katy Perry vendeu mais de três milhões e meio de cópias e emplacou dois hits poderosos (Roar e Dark Horse), além de uma apresentação no Super Bowl e a turnê Prismatic.


Para diminuir essa imagem de decadência e evitar cair no ostracismo do Pop, a cantora atualizou sua equipe e investiu na construção de uma nova 'persona' artística, que culminaria na premiação da Billboard como 'Mulher do Ano' em 2015. Para conseguir essa façanha, Gaga deixou o pop de lado e abraçou a nova fase 'jazz'. Mal terminada a turnê ArtRave em novembro de 2014, Gaga já estava envolvida na divulgação do álbum Cheek to Cheek, parceria com Tony Bennett. Era o primeiro projeto musical no qual a cantora abandonaria a personagem extravagante e com discursos de aceitação para investir em uma imagem mais clássica e acessível para todos os estilos (e idades). Para isso, obviamente, ela não ousou em inovar e apostou em versões de canções clássicas, de Bang Bang, até I Won't Dance. e teve a figura icônica de Bennett como um 'padrinho', que atestava a qualidade do material e parecia garantir que possíveis críticas fossem apaziguadas. Com foco na voz e sem os dançarinos semi-nus que a cercavam, Gaga queria atrair novos fãs para os shows intimistas, que nada lembravam os littles monsters  fantasiados que lotam os shows da cantora no passado. O projeto garantiu boas vendas se considerado um projeto ‘paralelo’, uma turnê estendida e até ganhou um Grammy.

Para consolidar essa nova imagem, Gaga aproveitou a oportunidade de realizar uma apresentação no Oscar 2015, um tributo ao clássico A Noviça Rebelde, vencedor do Oscar de Melhor Filme em 1966 e que completava 50 anos do lançamento. Com um treinamento vocal 'de dois meses', de acordo com a cantora, a elogiada apresentação de The Hills Are Alive serviu para demonstrar ao mundo interior essa nova fase, mesmo para aqueles que ainda não conhecessem o último projeto com Bennett ou a nova imagem elegante da cantora. O evento também marcaria a aproximação de Gaga com atores e produtores, o que ficaria ainda mais evidente com o teaser divulgado nos dias seguintes, com informações de um novo projeto da cantora.
 

Agora que apresentava uma nova faceta musical, a cantora explorava um novo desafio: Lady Gaga foi o primeiro nome confirmado no elenco da quinta temporada da série American Horror Story, antologia de terror criada por Ryan Murphy (de Glee e Scream Queens).  A ansiedade era grande, já que a anunciada saída de Jessica Lange, atriz que praticamente protagonizou as três temporadas, deixaria um grande buraco a ser preenchido e novidades seriam necessárias para atrair um novo público ao programa. Depois do teaser em preto e branco com a temática da temporada, poucos detalhes foram revelados até a estreia em setembro, em que tivemos a oportunidade de acompanhar Gaga como a protagonista da série no papel de uma excêntrica vampira, a 'Condessa', que vive em um hotel decadente e sinistro, uma trama claramente inspirada no clássico cult Fome de Viver. Apesar da queda de audiência ao longo da temporada, Gaga conquistou reconhecimento pela atuação, levando um Globo de Ouro e já está confirmada para próximos anos da série. Essa aproximação com as telonas não é novidade no meio musical e poderá render ainda mais oportunidades futuras, como tiveram Cher, Bette Midler e Barba Streisand.

Para fechar 2015, Gaga receberia o título de 'Mulher do Ano' pela revista Billboard, título que já foi de Taylor Swift, Beyoncé e Katy Perry em edições anteriores. Na entrevista, a cantora comentava da aproximação dos 30 anos, das exigências do mercado fonográfico atual e que não mais se preocupava em parecer uma pop star. Como resultado dessas ações, no começo de 2016 tivemos Gaga onipresente em todos os eventos e premiações possíveis, do Super Bowl com a execução do hino nacional, a premiação no Globo de Ouro, fazendo um tributo tecnológico ao Bowie no Grammy e a indicação de Til It Happens To You no Oscar, que levou ao palco vítimas de abusos sexuais, Em todos os eventos, do visual a postura, nada lembrava a Lady Gaga excêntrica e ousada de anos anteriores, mas um reforço dessa nova fase em que a cantora é associada com atitudes centradas e qualidade musical, uma nova Gaga 'para todas as idades'.

A 'nova' Gaga: longe do vestido de carne
Com ações estratégicas e projetos paralelos em quase dois anos, Gaga e sua equipe parecem ter deixado a mancha de ArtPop para trás, com um reposicionamento de imagem e estilo. A prova definitiva de se esse esforço valeu a pena será com o lançamento do aguardado quinto álbum da cantora, que está sendo produzido desde meados de 2015 com uma possível participação do produtor RedOne (responsável pelo sucesso Just Dance) e que ainda não tem uma data de lançamento definitiva. Para o público, será curioso ver como Gaga tentará conciliar essas duas novas personagens que se definiram nos últimos anos e se ela conseguirá agradar tanto os antigos fãs que adoravam os hits dançantes e a nova parcela que foi atraída pela associação com o jazz. Os próximos passos serão decisivos para a consolidação da carreira e, por enquanto, só resta torcer para que esses anos em projetos tão diversificados tenham servido como repertório e inspiração para novas mudanças e ousadias no próximo passo de Gaga!