12 de setembro de 2015

5 Turnês Indispensáveis de Madonna


O título de Rainha do Pop e o trono que Madonna ocupa há mais de 30 anos de carreira está sempre sendo questionado, seja por aqueles que ainda dizem que ela não tem a melhor voz, os fãs das novas cantoras (que em sua maioria se apropriaram do legado da própria Material Girl), ou mesmo os fãs saudosistas da Madonna dos anos 80 ou das polêmicas da década de 90. Seja qual for o argumento, muitos deles caem por terra quando a senhora Ciccone começa uma nova turnê e prova que, definitivamente, o palco é o espaço em que seu talento e legado é inquestionável. Com o início de sua mais nova empreitada, a Rebel Heart Tour (que promete se tornar a turnê mais lucrativa de 2015-2016), Madonna deverá atrair novos admiradores e reconquistar muito dos antigos. 

Para você que justamente quer conhecer (ou relembrar) as turnês que tornaram Madonna o ícone de hoje, cinco shows te ajudarão a ver a diversidade, profissionalismo e dedicação da cantora nessa jornada rumo ao topo. 


Drowned World Tour (2001)

Frequentemente fora das listas das mais queridas dos fãs, a Drowned marca o retorno de Madonna aos palcos depois de um hiato de quase oito anos em decorrências da gravidez e projetos no cinema. Marcando o começo no uso de novas tecnologias no palco, para muitos o show é quase uma ‘anti-turnê’ de Madonna, com um setlist de poucos hits clássicos (com exceção das incríveis performances de La Isla Bonita e Holiday, que surge vigorosa) e blocos que passeiam por temas pesados, como violência urbana, artes marciais e submissão feminina. Na Drowned, Madonna se comporta mais como um rockstar do que uma diva pop purpurinada, com sobrancelhas descoloridas à Ziggy Stardust, incluindo performances com instrumentos (guitarra e violão) e sendo o único show em que ela não mostrou as belas pernas ou abusou das lingeries. Com impressionante teatralidade, Drowned é uma turnê escura, repleta de referências orientais e que marcaria os rumos das próximas empreitadas de Madonna. 


Blond Ambition (1990)

Praticamente um divisor na carreira da cantora e do próprio show business, a Blond Ambition em alguns momentos pode parecer um tanto ultrapassada com aquele charme brega dos anos 80, mas foi fundamental para criar a base que 90% das turnês atuais utilizam, ao aproximar a estrutura dos mega-espetáculos da música com a produção e figurinos dignos de espetáculos da Broadway. Foi a primeira grande turnê da cantora a utilizar cenários mega-produzidos, contar com figurinos criados por estilitas e aliar a polêmica e blasfêmia para se tornar capa de jornais do mundo inteiro. Com algumas das melhores coreografias e performances da carreira, a Blond transformaria Madonna em uma deusa da sensualidade, com os sutiãs cônicos explorados por Gaultier na polêmica simulação de masturbação em Like a Virgin ou na abertura em que a cantora domina os subalternos. Um marco da cultura pop, Blond ainda encanta com uma Madonna no auge da provocação. 


Confessions Tour (2006)

Uma das turnês mais memoráveis de Madonna, a Confessions Tour seguiu a boa recepção do álbum Confessions On a Dancefloor, serviu para reconquistar muitos fãs e atrair a atenção de novas gerações, provando sua capacidade de antecipar tendências em espetáculo pop impecável. Utilizando a década de 70 como base, o show passeia por momentos com estética Disco (com inspirações em Embalos de Sábado à Noite e Xanadu), até uma polêmica performance de crucificação em uma cruz de espelhos (homenagem à Jesus Cristo Superstar), passando pelo movimento glam rock e prestando as devidas homenagens à Donna Summer e o ABBA, mesclando os primórdios e futuro da própria Madonna. Com versões surpreendentes de antigos clássicos (como Like a Virgin em que a cantora exibe toda sua flexibilidade após, literalmente, cair do cavalo), a Confessions se tornou um cartão de visita para quem quer descobrir os talentos de Madonna. 


The Girlie Show (1993)

Se a Blond Ambion serviu para definir os parâmetros de um espetáculo pop nos anos 90, The Girlie Show se aprofundou ainda mais no lado teatral dos shows, com referências ao cinema e questões sociais, se mantendo relevante sem parecer datada. Com a proposta de ser quase um “circo sexual”, a Girlie celebra a vida e o sexo, passando pelo movimento do amor livre dos anos 70, os cabarés decadentes e terminando com a motivação de ‘everybody is a star’. As performances são recheadas de referências aos filmes e divas clássicas, especialmente Marlene Drietchi, o que em alguns momentos deixa o clima um pouco arrastado. Explorando o visual andrógeno dos dançarinos (que hoje ganha novamente as manchetes da moda com o gender-bender), a Girlie marcaria o ápice de Madonna como um ícone sexual, com cabelos curtos platinados, um corpo trincado e figurinos assinados por Dolce & Gabbana.


MDNA Tour (2012)

A MDNA merece destaque por ser a última turnê de Madonna (primeira na última década) e servir quase como uma demonstração de poder da cantora: o espetáculo é grandioso, com um palco gigantesco e uma equipe de dançarinos que se contorcem e desafiam a gravidade com a mesma facilidade. Apesar das frequentes reclamações quanto ao setlist que pouco prioriza os clássicos e deixa de lado as músicas ‘que levantam o público para cantar junto’ (como Music, Holiday, Into the Groove ou La Isla Bonita), a MDNA aposta nas tecnologias de ponta e rende algumas das performances mais impactantes da carreira da loira, como a entrada ao som de Girl Gone Wild em uma catedral gótica ou Vogue, em que os dançarinos fazem um verdadeiro desfile de moda. Nessa jornada ‘das trevas para a luz’, nas palavras da própria cantora, MDNA é eficiente em criar muitas imagens memoráveis, reinventar hits e demonstrar que no palco Madonna consegue se manter como uma referência e ícone indiscutível. 

10 de março de 2015

Crítica - Madonna expõem dilemas com 'Rebel Heart'

Poucas artistas tiveram tantos ‘retornos’ e recomeços como Madonna. Dentro da proposta de se reinventar a cada trabalho, a cantora soube como poucos usar as saídas estratégicas para manter-se constantemente sendo ‘redescoberta’ pelo grande público e a mídia. Se hoje ela já poderia desfrutar soberana em um almejado (e disputado) trono do pop, Madonna parece genuinamente interessada em, mais uma vez, descer do Olimpo e provar que não é reverenciada como ícone pop há três décadas apenas por legado. A cantora quer provar que ainda consegue ser a mulher que desperta o interesse do público, fazendo aquilo que melhor sabe: ser controversa. É com o objetivo de recomeçar (mais uma vez), que Madonna apresenta seu décimo terceiro trabalho em mais trinta anos de carreira: Rebel Heart.

Depois da recepção morna ao último trabalho, MDNA (2012), que foi realizado entre a filmagem do filme W.E e o lançamento de uma linha de roupas (o que gerou protesto até do produtor William Orbit), Madonna pareceu bem mais focada na produção do álbum sucessor e chamou um verdadeiro ‘time’ de talentos em busca de uma nova sonoridade. Depois de quase um ano no estúdio, que resultaram as famosas ‘80 demos’, temos colaborações de artistas e produtores consagrados, como Avicci, Diplo, Alicia Keys, Kayne West, Pharrell Williams, Nicki Minaj (na sua terceira colaboração com Madonna) e o rapper Nas. Das novatas, Natalia Kills conseguiu deixar o som da veterana mais obscuro, enquanto a ‘amiga’ Miley Cyrus ajudou na composição de Wash Over Me. No meio de tantos nomes, até o ex-boxeador Mike Tyson conseguiu participar de uma das faixas (!?).

O álbum já se tornou um marco na carreira da artista por ser o trabalho que mais tempo levou para ser produzido (cerca de nove meses) e ter a divulgação atrapalhada pelos constantes vazamento de materiais ilegais. Em novembro, enquanto o álbum ainda era finalizado, Madonna teve o primeiro baque com a liberação de duas faixas, que seriam só o começo de outros vazamentos, terminando em cerca de 30 canções divulgadas de forma ilegal. Quase um mês antes do lançamento oficial, o álbum já finalizado caiu na internet, quebrando de vez a surpresa dos ajustes. Depois de esbravejar nas redes sociais, Madonna tentou reverter os vazamentos disponibilizando seis faixas do trabalho para venda digital, quase como EP de antecipação, mas é inegável que Rebel Heart chega já prejudicado e sem grandes surpresas.

Bastaram as seis músicas disponibilizadas no iTunes para a crítica eleger Rebel Heart como o melhor álbum de Madonna desde o sucesso de Confessions on a Dancefloor (2005). Ouvindo o trabalho completo, não é difícil analisar que ele se encontra à frente de Hard Candy (2008), em que a cantora tentava seguir a ‘onda’ do hip-hop ou do próprio MDNA (2012), que oscilava entre canções ‘maduras’ sobre o divórcio (como as queridinhas dos fãs, Gang Bang e Love Spent) e outras músicas genéricas e impessoais, em que a cantora tentava emplacar uma imagem juvenil (Some Girls, Superstar). Longe de serem os lixos descartáveis que os delatores tentam pintar, os últimos projetos de Madonna pecavam justamente por não conseguirem marcar uma sonoridade e imagem para cada era, servindo de base apenas para a divulgação da turnê, real foco da cantora na última década.


Rebel Heart acerta justamente no ponto fraco dos últimos trabalhos ao manter uma unidade sonora, como um álbum consistente, o que deve ter sido complicado visto a quantidade de pessoas que trabalharam no projeto e a duração da produção. Dessa forma, é possível encontrar no trabalho o lado ‘rebelde’ da artista, aquele que aos cinquenta anos ainda deseja festejar, falar de sexo e curtir os sabores da fama, ao lado da parcela mais ‘romântica’, recheada de baladas sobre desilusões amorosas, vulnerabilidade e superação pessoal. Como um álbum de contrates, definido pela própria cantora como o encontro da antiga Madonna com uma nova Madonna, há espaços para reflexões pessoais, sendo o trabalho mais autobiográfico de Madonna desde do belo American Life (2003) e relembrando em alguns momentos a sonoridade refinada e obscura do subestimado Erotica (1993).  

As primeiras faixas estão entre as melhores do álbum, com o primeiro single Living for Love, seguido de Devil Pray (sobre uma tenebrosa relação com as drogas) e as mais agitadas do projeto: com pegada reggae, Unapolegic Bitch se torna um novo hino pessoal de Madonna ao decretar-se uma ‘vadia sem remorso’, enquanto Bitch I’m Madonna poderia soar como o cúmulo do egocentrismo, mas não passa de uma divertida brincadeira pop com pitada de Nicki Minaj, ideal para lotar as baladas com coreografias. Iluminatti aproveita os boatos da ‘sociedade secreta’ que dominaria os rumos mundais e rende uma das melhores músicas do álbum, com produção luxuosa de Kayne West e tratando do assunto com ironia, combinando o nome das celebridades que supostamente fazem parte desse grupo secreto.


O restante das músicas oscilam entre baladas românticas, área que Madonna andava um tanto afastada, como Joan D’Ark (que fala sobre vulnerabilidade, algo raro quando falamos da loira) e as dramáticas Heartbreak City e Ghosttown (que provavelmente será o próximo single), enquanto outras canções abordam o lado ‘rebelde’ da artista, como S.E.X, Best Night e Holly Water, que convocam as mulheres para falarem abertamente sobre sexo, posições sexuais e a liberação da ideia de pecado. A própria voz de Madonna ajuda a separar essas temáticas, aparecendo mais calma e suave nas músicas românticas, enquanto nas mais sensuais há sussurros e um tom mais grave, utilizado na época de Like a Prayer e Erotica.

Em Rebel Heart, há também reflexões sobre a própria carreira, como em Iconic, que contém uma mensagem que é pura Madonna, sobre não desistir e manter um discurso contestador. Veni Vidi Vici é outra faixa autoreferente, que rima os nomes e trechos de outros sucessos de Madonna para fazer uma recapitulação da carreira, enquanto a faixa homônima, Rebel Heart, relembra o começo da carreira e a tentativa de ser provocante para chamar atenção, mesmo com a desaprovação do pai. Apontando para um futuro musical, Body Shop, uma das menos querida pelos fãs, é uma daquelas faixas em que a cantora testa novas sonoridades, misturando o ritmo oriental com uma letra metafórica sobre ser ‘arrumada’ em uma oficina corporal. Já Inside Out é um daqueles momentos em que a boa produção encontra uma letra interessante que coloca o amor completo, que incluí defeitos, imperfeições e cicatrizes. Uma posição madura, que nada lembra o som dance que Madonna tentou emplacar nos últimos anos e pode ser um bom indicio do que poderemos ouvir num futuro musical da veterana.


Completamente retrabalhada e agora pouco lembrando a demo focada em baladas, Wash Over Me ganha maior profundidade, sendo uma das faixas que mais expõem os dilemas atuais da artista, que canta ‘Quem sou eu para decidir o que deve ser feito?’ e prefere deixar ‘a chuva cair sobre mim’. É Madonna se colocando como uma ‘estranha’ no cenário atual, vivendo em um mundo contraditório em que ela deseja ainda ser relevante. Comparando com as músicas vazadas ou rejeitadas, é curioso observar que Madonna acabou cortando as canções mais sociais (Freedon, Revolution) para optar pelas dúvidas e contradições de seu ‘coração rebelde’. 

Longe de ser um Confessions 2.0, como muitos fãs esperam há anos, Rebel Heart dá um tempo nas canções-dance-escapista de Madonna e soa mais maduro e até mais calmo que últimos trabalhos da artista. Querendo provar que ainda pode se reinventar e se reapresentar para uma nova geração de fãs, Rebel Heart pode não se tornar um sucesso comercial já que não tem apelo radiofônico, mas prova que Madonna ainda está interessada em produzir, dialogar e criticar convenções. Em um sociedade que ainda boicota as músicas dela pela questão da idade, faz piadinhas com sua queda ou que a critica por simplesmente ser sensual com mais de 50 anos, ainda será necessário que Madonna quebre muitas barreiras antes de poder sentar-se confortavelmente no trono e apenas observar seu legado inegável dentro da cultura pop.


Obs: Lançado em três versões diferentes, caso não seja tão fã da cantora, pode escolher a versão Deluxe, com 19 faixas e as melhores músicas dessa nova fase. Aproveite!



8 de março de 2015

Com 'Are You The One' e 'Adotada', MTV foca em novo público

Não estranhe se beirando os 30 anos, você começa a assistir novamente a MTV. Focado nessa geração que ‘deu uma esticada’ na adolescência e ainda vive mais dilemas que certezas, dois reality shows do canal focam nesse grupo específico de telespectadores. Enquanto Are You The One é um reality de relacionamentos amorosos, com o objetivo de formar 10 casais ‘perfeitos’, Adotada foca nas relações (nem sempre agradáveis) em família e as diferenças entre criações.  

Se no começo dos anos 00 a MTV, ainda na era pré-youtube e banda larga, era a responsável por ditar as tendências e os ícones jovens, como os clipes que marcaram gerações e os comportamentos que seriam copiados, a emissora sofreu a decadência quando o acesso a música, vídeos e entrevistas se tornaram acessíveis a distância de um clique, no momento em que você desejar. Não tentando mais competir com a Internet ou retomar o espaço que um dia teve, o canal acerta a mão novamente ao oferecer entretenimento fácil e que refletem alguns comportamentos bem atuais, sem julgamentos ou lições de moral. 


Com 20 jovens bonitos, cheios de estilo e solteiros, Are You The One é um reality de formato estrangeiro com o objetivo de encontrar 10 pares ideais. Em uma época de Tinder, Grindr e Badoo, em que o match perfeito pode estar no clique certo, os solteiros são isolados em uma casa maravilhosa e devem encontrar a pessoa que, por testes de personalidade, foi escolhida como ‘par ideal’. Com a primeira temporada ainda em exibição, nos episódios acompanhamos competidores que tentam manter uma postura madura no primeiro momento, mas que logo se revelam ciumentos, egoístas e, muitas vezes, sem tanto conteúdo.  

Com provinhas sem criatividade (normalmente envolvendo os participantes com pouca roupa) e brigas ao nível de novela mexicana, Are You The One é um espelho das relações atuais, em que nem sempre o ‘par perfeito’ é a melhor escolha, já que não é raro os participantes se apaixonarem por candidatos que não são os seus indicados compatíveis. Também é curioso como em geral os jovens se mostram bem imaturos quando precisam conversar entre eles, expressar opiniões ou até mesmo argumentarem entre si. Não é raro ver homens se comportando como meninos, jogando capoeira, tentando ‘chegar nas meninas’ ou em rodinhas conversando sobre exercícios físicos, enquanto as meninas assumem a tarefa de arrumarem a casa, fofocarem entre si e cozinharem. Também não faltam inimizades entre elas, como quando uma menina propôs a troca de casais, objetivo do programa, logo foram as outras colegas ficaram contra ela começaram a taxá-la como ‘piriguete’. Em uma época de conquistas feministas, ainda falta uma mudança no comportamento e atitude de muitas mulheres, que ainda julgam quando uma delas falam abertamente de seduzir um homem e não espera que ele tome a atitude. 


Com a proposta de visitar uma nova casa e ‘ser parte da família’ por episódio, Adotada é outro reality que chama atenção por choques culturais e sociais. Maria Eugenia, produtora de moda, DJ e ex-namorada do Supla (que aparece em todos os episódios), é magra, bem produzida, antenada, veste as melhores grifes do mundo e chega aos 27 anos ainda querendo experimentar novidades. Com uma segunda temporada já marcada para estrear em abril, Adotada mostrou na primeira temporada cerca de 10 famílias diferentes, em que a ‘filha adotada’ teve que encarar o dia a dia de comunidades hippies, vendedoras de acarajé, mães obcecadas por disciplina e muitos filhos mimados. 

Seguindo a proposta do ‘Troca de Família’ ou ‘Super Nanny’, que busca o choque de gerações e criações para dar dinâmica ao programa, Adotada renova a fórmula por ser protagonizado por Maria Eugenia, que oscila entre momentos em que se diz ‘madura para a idade’, entre outros que parece disposta a ir curtir a balada com seus ‘irmãos adotivos’ e pouco se importar com as consequências do que fala. Marieu, como é chamada pelos fãs, também é autêntica em demonstrar um comportamento típico da nossa geração, ao defender seu discurso, mesmo que isso muitas vezes signifique ignorar outros argumentos ou ideias. No mesmo episódio em que defende um jovem homossexual e finge ser transsexual para o pai dele, com intuito de debater a diversidade sexual, ela dá risada em uma apresentação de dança em que mulheres acima do peso dançavam. 

Talvez sem o objetivo, a nova MTV acerta ao demonstrar os comportamentos dessa nova geração de jovens, que chega a idade adulta ainda oscilando com muitas dúvidas. Os programas se destacam justamente quando retratam essa inconstância tão comum em nossos dias e, sem dúvida, soam mais autênticos que outros programas desse gênero. Não se surpreenda se de repente, você também se ver torcendo para que aqueles jovens encontrem seus pares ideais, que Marieu entre em choque com novas famílias e que, pouco a pouco, retratem muito da sua rotina e te façam pensar em novos dilemas e possibilidades! 

18 de fevereiro de 2015

Megapost: Entendendo Living For Love de Madonna


A crítica foi praticamente unânime em apontar ‘Living for Love’, produção dirigida por Julien Choquart e Camille Hirigoyen como o mais influente clipe de Madonna desde que a Rainha do Pop desfilou seu collant roxo em Hung Up e iniciou a onda do revival dance-disco-setentista. A cantora andava mesmo um tanto desleixada com as produções de videoclipes, área em que foi referência por anos e rendeu pérolas como Like a Prayer, Frozen, Bedtime Story, superproduções como Express Yourself, Die Another Day, além dos polêmicos e censurados Justify My Love e Erotica. Se na última era, Give me All Your Luving foi uma divertida crítica ao cenário pop atual, Girl Gone Wild e Turn Up the Radio passaram quase desapercebidas do grande público e não conseguiram marcar a identidade visual do álbum MDNA.  

Aparentemente uma produção simples, Living For Love acerta onde algumas das criações recentes de Madonna pecaram, criando imagens fortes, personagem marcante, além da referência ao passado da artista, ao mesmo tempo em que aponta para a vontade da cantora em dialogar com um novo público. O próprio lançamento do vídeo, o primeiro videoclipe lançado mundialmente pelo aplicativo Snapchat, já indica como Madonna está de olho em novos meios de divulgar seu nome para futuras gerações, especialmente os mais jovens que talvez ainda associem Madonna como a ‘rival de Lady Gaga’ e ainda não tiveram contato com o trabalho dela. 

Como todo lançamento de Madonna, mesmo um clipe aparentemente simples, revela significados e referências a outros trabalhos da artista, homenagens e marca uma mensagem de superação, como diz a letra da canção.

A LETRA


Living for Love foi definida pela própria Madonna como uma canção sobre triunfar logo após ter o coração partido, uma mensagem de superação. Não há espaço para martírios românticos ou vítimas: no novo single, Madonna adota uma postura de esperança quando as coisas não parecem tão bem e aposta no amor como o elemento motivador das grandes mudanças.

First you love me and I let you in
Made me feel like I was born again
You empowered me, you made me strong
Built me up and I can do no wrong
I let down my guard, I fell into your arms
Forgot who I was, I didn't hear the alarms
Now I'm down on my knees, alone in the dark
I was blind to your game
You fired a shot in my heart

No começo da música, Madonna descreve como deixou-se enganar por um relacionamento aparentemente perfeito, deixando de lado os próprios gostos e dependendo do outro para fortalecê-la, motivá-la. Com o rompimento dessa realidade, ela percebe que estava ‘cega para o jogo’ e agora terá que enfrentar sozinha o fim dessa relação e encontrar a automotivação para seguir em frente.  

Took me to heaven and let me fall down
Now that it's over
I'm gonna carry on
Lifted me up, and watched me stumble
After the heartache, I'm gonna carry on
Living for love
Living for love
I'm not giving up
I'm gonna carry on

No lugar de lamentar esse término ou se colocar como a vítima da situação, o refrão da canção revela a mensagem de superação, ao colocar o amor (próprio) como elemento motivador para não desistir e superar as adversidades. O amor que antes era dedicado para o outro, volta-se para si, sendo um elemento de mudança. 

I could get  caught up in bitterness
But I'm not dwelling on this crazy mess
I found freedom in the ugly truth
I deserve the best and it's not you
You broke my heart, but you can't bring me down
I was falling apart, what was lost, now I'm found
I picked up my crown, put it back on my head
I can forgive, but I will never forget

Já superado o fim desse relacionamento, há a libertação e a convicção de que ela merece 'o melhor', diferente da relação fracassada que estava vivendo. Encontrando a liberdade na 'feia verdade' e já fortalecida, ela não se deixa mais abalar por essa história, recolocando 'coroa em sua cabeça', encarando o problema de frente. Apesar de parecer uma história superada, há uma promessa: apesar de perdoar, ela ainda não é capaz de esquecer, aprendendo com essa situação.

As Touradas


Semanas antes do lançamento do clipe, quando ainda não havia a confirmação da temática, a cantora postou uma foto de toureiro em a conta do Instagram, com elogios a pose ‘sexy’ da imagem. Minutos depois, a enxurrada de críticas diziam que as touradas incentivavam a matança do touro por entretenimento e mesmo com a cantora tentando justificar que admirava a pose e figurino na foto, ela acabou deletando a imagem para não gerar ainda mais polêmica ou ter que ficar que justificando as postagens. 

Polêmicas, as touradas fazem parte da cultura espanhola e são recheadas de simbolismo, rituais e etapas. A tradicional imagem do homem duelando contra o touro com uma capa vermelha é apenas uma parte do espetáculo, que envolve riscos para todos os participantes. Nesse duelo tão próximo com o animal, os dribles com a capa servem justamente para o toureiro conseguir avaliar o porte, velocidade e força do touro, para decidir o momento ideal para desferir o golpe. A tourada espanhola, diferente de outras versões em países Latinos, termina com o animal morto, de preferência com uma morte rápida e com um golpe calculado. Se o toureiro der o golpe certeiro, o animal não permanecerá por mais alguns minutos vivos e será ovacionado pelo público presente. 

Além da polêmica dessa tradição aparentemente cruel, o meio ainda é dominado pelos homens, apesar de existirem mulheres que encarem uma arena. As reais toureiras ainda lidam com o preconceito de participarem de um ambiente predominante masculino e têm que viver de maneira centrada para serem bem-sucedidas e encarem os perigos da prática, como retratado em ‘Fale com Ela’, do diretor Almodóvar em que a personagem toureira é atropelada por um touro e entra em estado vegetativo.

Entre os significados que alguns adotam das touradas, está a luta entre o homem e o animal, a razão sobre o instinto e até o feminino contra o masculino. 

Madonna e os toureiros


Não é a primeira vez que Madonna se aproxima do universo das touradas: em 1994, com o belíssimo clipe de Take a Bow (que fez com que ela ganhasse o papel título em Evita), ela interpretava uma mulher apaixonada pelo toureiro, quase obcecada pela imagem viril que ele representa. Depois de finalmente seduzi-lo, ela era abandonada e terminava o vídeo sozinha, encarando que tinha sido usada pelo homem que tanto venerou. O clipe tornou-se uma referência na videografia da cantora, na época no auge da beleza e rendeu uma das baladas de maior sucesso da carreira, permanecendo no topo das paradas por semanas. 



O sucesso de Take a Bow fez com a cantora repetisse a dose e fizesse a primeira continuação de videoclipe da carreira com a balada You’ll See. Dessa vez, entretanto, a situação era inversa: o toureiro arrependido segue Madonna para pedir perdão, mas a cantora está decida em deixá-lo, viajando para longe. Na letra, ela insiste em que não perderá a fé no amor e irá encontrar forças para superar essa desilusão, sozinha. Quase em tom de ameaça, a faixa termina dizendo 'eu não preciso de ninguém dessa vez - você verá'. 


O Clipe

Décadas depois de deixar o toureiro no clipe de You'll See, é Madonna agora quem assume o papel de domadora. Se em Take a Bow e You'll See as touradas eram um ambiente viril e sedutor, dessa vez ela surge como um dramático palco de lutas, com status de libertação. Se no clipe clássico de 1994 ela se arrumava para seduzir o toureiro, dessa vez ela se apronta para a luta.


Com belos e detalhados figurinos criado sob coordenação de B. Åkerlund com a estilista alemã Verena Dietzel, conhecida por peças burlescas, Madonna surge sozinha no palco que simula uma arena de tourada cercada com cortinas vermelhas, treinado para a luta (espetáculo) que está para começar. Se antes ela sofreu de amor e prometeu que iria superar, em Living For Love ela retoma a mensagem de superação e força, dessa vez encarando de frente os 'minotauros' que adquirem o significado dos problemas passados, relacionamentos fracassados e até ex-amantes. 





Já fortalecida e confiante, acreditando no amor próprio como defesa, a cantora adota uma postura provocativa, encarando os minotauros e fazendo com que, um a um, eles a enfrentem e sejam domados na arena. Ao encarar os problemas 'de frente', ela prova que está além dessas adversidades e logo faz com que os minotauros sigam seu comando, seu ritmo, como se tomasse as rédeas da situação.






Depois de dominar seus problemas, Madonna aparece rapidamente com uma máscara de diamantes parecida com as dos minotauros, que por sua vez revelam seus rostos. Se antes eles eram intocáveis seres místicos, agora eles não passam de homens comuns. Abandonando o figurino de toureira, Madonna ressurge mais feminina, solta e vibrante, como se depois de controlar seus medos a cantora se libertasse e estivesse pronta para uma nova fase. Um dos minotauros até tenta seduzi-la (uma reconciliação?), mas logo é repelido pela cantora, que é elevada pelos seres como a vencedora da Arena. 




Como na tradição espanhola, os minotauros são mortos e Madonna surge vitoriosa no fim, sendo ovacionada pela platéia que acompanhava o espetáculo. Encarando os medos e acreditando no amor como o motivador de grandes mudanças (como diz a letra), o clipe traz elementos da carreira da artista e faz referência as coreografias e palco de Maurice Bejart, além de pequenas polêmicas como o incentivo as touradas ou aqueles que preferem acreditar que Madonna está enfrentando 'demônios' no clipe. Com uma produção aparentemente simples, mas repletas de detalhes, Living For Love marca o começo da era 'Rebel Heart' e prova que Madonna ainda está interessada em permanecer no imaginário popular com imagens impactantes e, como diz na canção: não irá desistir!    



24 de janeiro de 2015

American Horror Story - Elenco e personagens encantam, apesar de furos no roteiro


Quando surgiu em 2011, American Horror Story foi encarada como um teste do produtor Ryan Murphy, que na época  aproveitava a repercussão do sucesso Glee, a série do momento. Poucos acreditavam  no projeto, que tinha o objetivo de resgatar as histórias de terror e suspense na televisão, um vazio não preenchido desde o fim de Arquivo X. Com boa repercussão, American Horror se tornou uma referência, abrindo caminho para outras grandes produções de suspense, desde a elegante Penny Dreadful, passando pela acelerada The Stain, até produções que dividem opiniões, como Salem, Sleepy Hollow, As Bruxas de East End, Hemlock Grove e até Hannibal e Bates Motel. Agora, com o fim da quarta temporada, Freakshow, American Horror se consolida como uma das produções mais influentes da TV, apesar de ainda manter problemas na estrutura.

Com a premissa de contar uma nova história por temporada, sempre com cerca de 13 episódios, American Horror muda a trama anualmente, apresentando novos personagens para o mesmo elenco, que conta com ótimos atores em sintonia. Dessa forma, a série se beneficia em poder se adaptar-se aos temas que estão relevância, atraindo novos fãs a cada ano e não caindo no principal problema de séries atuais: com a necessidade de alongar as temporadas, muitas acabam perdendo o ritmo em episódios arrastados ou tramas que duram anos e poderiam ser resolvidas em alguns dias. O próprio Glee de Ryan não escapou dessa situação e chega na sexta e última temporada sem a repercussão e audiência dos primeiros anos.


Dessa forma, já acompanhamos a história de uma mansão assombrada e palco de assassinatos no primeiro ano, um manicômio cercado de mistérios na segunda (e melhor) temporada, um clã de bruxas lutando pela supremacia de New Orleans e um circo decadente de aberrações no quarto ano. O elemento em comum em todas as histórias é o talento de Ryan em criar personagens carismáticos e complexos, que despertam nossa rejeição e afeição na mesma medida, além de colocá-los em situações bizarras, que podem ir desde uma abdução, rituais voodo ou uma cena musical ao som de Lana Del Rey ambientada nos anos 50. Para rechear as tramas e aproximá-las da realidade, também não faltam referências e citações a celebridades da época, casos reais de crimes hediondos ou personagens históricos que aparecem constantemente na série, despertando nosso interesse em conhecer ainda mais detalhes da história. Na época da 'segunda tela', American Horror se beneficia em manter-nos sempre atento aos detalhes, em busca de pistas ou referências externas. 

Para interpretar personagens tão complexos, Ryan conseguiu reunir um elenco de primeira, de dar inveja a qualquer produção na TV e até mesmo no cinema, juntando na mesma cena talentos consagrados como Katy Bathes e Jessica Lange, além de destacar novos rostos como Emma Roberts e Gabourey Sidibe. Entre as descobertas da série, estão Evan Peters, Frances Conroy e Sarah Paulson, que integram o 'elenco fixo' e se destacaram como o assassino Tate, a bruxa fashion Myrtle Snow e a repórter trancafiada no manicômio, Lana Winters. Da quarta temporada, com o maior elenco até agora, Finn Wittrock foi quem se saiu melhor como o desequilibrado Dandy, que oscilava entre Psicopata Americano e Psicose

Entre todos os destaques, a série também marcou o retorno de Jessica Lange ao estrelato, muitas vezes apoiando-se em seu talento como chamariz. Desde que roubou a cena na primeira temporada como a vizinha misteriosa Constance, Jessica protagonizou os outros anos, sempre com personagens marcantes e representando mulheres fortes, que provaram como Lange é uma atriz completa, seja em tocantes sequências dramáticas, cenas musicais (como The Name Game, uma das mais lembradas pelos fãs) ou desfilando lingerie de dominadora sadomasoquista aos 65 anos. Anunciada como última colaboração de Lange na série, Elsa Mars, dona do circo de aberrações, foi a despedida em grande estilo, uma personagem que oscilava entre o egocentrismo e a vontade genuína de proteger seus 'monstros'. A versatilidade de Lange, obviamente, foi reconhecida com indicações ao Globo de Ouro e Emmy em quase todos os anos em que participou da série. 

Se por um lado a alternância de histórias contribuiu para manter a relevância da série, também resultou em seu maior problema: com uma quantidade grande de personagens e tramas paralelas, não é difícil encontrar erros no roteiro que resultam em situações que não são explicadas, personagens que somem quando não estão em destaque e episódios finais apressados, para conseguir concluir a narrativa elaborada. Das temporadas, Coven foi a mais prejudica por oscilações e personagens que praticamente mudavam o objetivo e importância na trama semanalmente, principalmente a personagem de Lange, que hora aparecia abatida por um câncer e em outros momentos simplesmente esbanjava mais vitalidade que todas as bruxas adolescentes. Além disso, a necessidade de ter praticamente uma morte 'surpreendente' por capítulo acaba tirando o impacto da informação e quando chegamos ao meio da temporada já estamos cansados de ver personagens secundários morrendo de forma inexplicável como desculpa para manter o interesse do público. 


Parecendo preocupados com as críticas, a última temporada manteve um ritmo melhor que Coven e brilhou nos episódios em que haviam citações aos casos reais, como aberrações da época ou homenagens a filmes como Freaks. A temporada também ganhou destaque por ser a primeira que estabeleceu conexões com as histórias dos anos anteriores, indicando que, provavelmente, as tramas se ligarão futuramente, com personagens consagrados estabelecendo esses ganchos. Apesar de melhor estruturada, não faltaram críticas, especialmente em alguns episódios que deixaram o suspense de lado e mergulharam em um drama digno de filmes de época, incluindo um cansativo discurso de igualdade social entre as aberrações e a sociedade. 

Com uma quinta temporada já confirmada (com boatos de que será uma história contemporânea sobre Hollywood ou abduções alienígenas) a expectativa é que American Horror consiga lidar com a possível saída de Lange (e ficar sem A protagonista) e encontre uma temática que ainda não tenha sido explorada nos anos anteriores, com situações e personagens interessantes. O próximo ano será decisivo em manter a série como uma das produções mais ousadas da TV e consolidar-se como uma referência, uma vez que cada vez mais produções de suspense e terror ganham as telinhas e a concorrência aumenta a cada ano. Dependerá de Ryan evitar os erros de ritmo e roteiro das últimas temporadas e dar mais do que o público quer: boas atuações, personagens interessantes, situações bizarras e aquela ansiedade causada pelas boas histórias de suspense (e se possível mais Jessica Lange cantando David Bowie, por favor).