20 de dezembro de 2010

Comentário – “Preciosa – Uma História de Esperança”

Clarice Preciosa Jones é uma adolescente obesa, negra, pobre, com péssimo rendimento escolar e está grávida de seu segundo filho, frutos de abusos sexuais cometidos pelo próprio pai da garota. Além disso, ela vive com a mãe desempregada, que não perde uma chance de humilha-la e agredi-la (fisica e verbalmente). Entretanto, mesmo com uma história tão triste e dramática, Preciosa consegue passar uma lição de esperança e superação. 

Dos filmes indicados ao Oscar de Melhor Filme desse ano, Preciosa foi o longa que mais me emocionou e cativou. A história pode parecer simples, já que  na maior parte do filme, só acompanhamos a protagonista sendo humilhada por sua família, por seus vizinhos, pelos colegas de classe. O clima do filme é triste, pesado e  pode até causar um desconforto na platéia. Nesse sentido, o diretor Lee Daniels merece reconhecimento por tratar uma história tão pesada de maneira natural, sem apelar para o melodrama ou situações açucaradas para tirar lágrimas fáceis do espectador. O filme ganha ainda mais destaque nas cenas que misturam a triste realidade da jovem com seus sonhos, super coloridos. Como quase toda adolescente, Preciosa sonha em ter um namorado bonito, fazer sucesso, ter uma família que a apoia e ser mais magra.


Além disso, o diretor brinca com as cores e iluminação para estabelecer os contrastes da vida da jovem. Dessa forma, o apartamento em que vive com a mãe é pouco iluminado, praticamente sem cores e demonstra a vida sem “cor” e repressiva da protagonista. Já a escola alternativa, onde conhece sua grande mentora, a professora Rain, surge como um local sempre muito organizado e extremamente iluminado, como se fosse a “luz na vida” de Preciosa. Os sonhos de Preciosa também são sempre carregados de cores, estabelecendo uma nítida diferença da realidade monocromática e sem atrativo.

Gabourey Sidibe faz de Preciosa seu primeiro e marcante papel em Hollywood. A atriz, que concorreu diversos prêmios como o Oscar, permanece boa parte do filme sem expressões, como se tivesse perdido a capacidade de demonstrar suas emoções. Além disso, a escola marcará a transformação (até física) que a jovem passará, voltando aos poucos a demonstrar seus sentimentos, que atinge o ápice na única cena em que ela chora. Nas mãos de outra atriz, a personagem poderia cair no melodramático ou na caricatura, coisa que não acontece. Outro destaque do bom elenco é a apresentadora Monique (vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante) que faz da cruel mãe de Precisa, sempre disposta a transformar a vida da jovem em um inferno.  

Fugindo do comum, Preciosa é uma obra corajosa, diferente e com estilo sobre uma personagem que vai perdendo os motivos de viver, mas que encontra na educação e na escola a força para se superar e mudar de vida. Apesar de não ser facilmente encontrada em todas as locadoras (eu achei em algumas e outras não tem), Preciosa merece ser conferido.

8 de dezembro de 2010

O Domínio da Disney

Branca de Neve e os Sete Anões foi o primeiro longa metragem de animação da história e marcou o estilo e domínio da Disney nas produções de animações por décadas. O poder “disnéico” é tão grande que transformou histórias clássicas da literatura infantil, como Cinderela e A Bela Adormecida em desenhos inesquecíveis e que se tornaram referências por gerações. 

Branca de Neve, Cinderela, Bambi, Dumbo, Mogli e A Bela Adormecida foram as animações “clássicas” do período em que Walt Disney comandava as produções das animações. Essas animações estabeleceram o padrão disney: histórias clássicas, pesonagens carismáticos, muitas músicas, vilões inesquecíveis e histórias que sempre trazem uma lição de moral sobre família, amizade e amor.

Depois da morte do criador do Mickey, as grandes animações deram uma pausa e só voltariam  a ter relevância  com A Pequena Sereia.  A animação da sereia ruiva iniciaria uma “época de ouro”, em bilheteria e crítica, nas animações da empresa, que lançaria em sequência  A Bela e Fera (única animação tradicional que concorreu ao Oscar de Melhor Filme), Aladdin e O Rei Leão
 
Com a vontade de concorrer novamente ao Oscar de Melhor Filme, a Disney muda o rumo de suas animações e aposta em histórias mais dramáticas e próximas da realidade, como Pocahontas (com um dos finais mais tristes da história da Disney) e o gótico O Corcunda de Notre Dame, que contava até com temas polêmicos como desejos reprimidos e perseguição religiosa. Depois de tanta seriedade (e queda nas bilheterias)  a Disney apostou novamente em histórias clássicas com novas roupagens, como Tarzan, Mulan e Hércules.

Nos Anos 00, depois do avanço da animação digital e o crescimento da Pixar, as animações tradicionais desse período estão longe de se tornarem clássicos e perdem a preferência da criançada e não conquistaram boas bilheterias ou críticas, como Atlantis, Planeta do Tesouro e Nem que a Vaca Tussa. Lilo & Stich é o único filme desse período que merece destaque. Na tentativa de voltar ao sucesso do passado, a empresa começa a apostar em animações digitais como Selvagem e A Família do Futuro e abandona as animações tradicionais por um período.

A Princesa e Sapo marcaria o retorno da empresa para a animação tradicional e a primeira protagonista negra da Disney. Os próximos lançamentos da empresa prometem seguir a antiga fórmula de adaptar uma história clássica com Enrolados uma nova versão da clássica história de Rapuzel, a jovem que é trancada em uma torre e joga suas tranças para ser salva.