3 de agosto de 2010

Comentário - Alice no País das Maravilhas

Depois do sucesso nos cinemas, Alice no País das Maravilhas do diretor Tim Burton, chega em DVD e Blu-Ray. O filme apresentava os elementos perfeitos para o diretor, conhecido por lidar com universos fantásticos como em A Fantástica Fábrica de Chocolates, entretanto, apesar do sucesso, Alice dividiu opiniões até mesmo dos fãs do diretor e da história clássica da menina perdida em uma terra encantada. É bem provável que as exigências da Disney tenham restingindo algumas extravagâncias do diretor, porém, alguns elementos tão comuns em suas obras, como os personagens excêntricos e o visual rebuscado estão presentes neste filme.
Alice No País das Maravilhas é um filme sobre o fim da infância e o amadurecimento, através de provações e novas responsabilidades. O filme dá prosseguimento a tradicional história da menina que cai em um buraco e acorda em um mundo fantástico, repleto de personagens bizarros e ao mesmo tempo encantadores, portanto, conhecer a história original torna este filme bem mais interessante, apesar de não ser extritamente necessário. Logo Alice, agora adolescente, descobre que terá que lutar para libertar o País das Maravilhas do controle da cruel Rainha Vermelha.

O Mundo das Maravilhas é uma versão alternativa da própria realidade da jovem, com personagens e situações correspondentes, como as irmãs gêmeas e os irmãos Tweedley-Dee e Tweedley-Dum, ou a  "sogra" de Alice com a Rainha Vermelha, além disso, o pedido de casamento no mundo real corresponde a responsabilidade de lutar contra o dragão. Através do mundo das fantasias,  Alice pode refletir sobre sua identidade e enfrentar seus dilemas. Desta forma, em ambos os mundos, Alice deverá fazer escolhas difíceis e assumir a responsabilidade de seus atos perante a sociedade, seus amigos e família.
O País das Maravilhas é uma alteração da realidade de Alice
Outro aspecto importante do filme é a disputa da tirânica Rainha Vermelha com a delicada Rainha Branca. Com uma cabeça enorme e odiada por seus súditos, a Rainha Vermelha (em outra brilhante atuação da esposa do diretor, Helena Bohan Carter) sofre por não ser admirada, utilizando a tirania como a única forma de ser respeitada. Por baixo da aparente crueldade da rainha, na verdade, há uma pessoa amargurada e que foi traída diversas vezes, até por seus súditos mais próximos. Por outro lado, a Rainha Branca (Anne Hathaway), uma típica princesa da Diney, aparentemente indefesa e adorada pelos habitantes do País das Maravilhas, revela através de falas e sutis ações, que pode não ser tão inocente ou íntegra como imaginam. Pode-se até imaginar que Tim Burton, através da Rainha Branca e seu reino intacto, criou uma crítica à sociedade das aparências e ao eterno politicamente correto, que esconde falsidades e hipocrisias.  
A disputa entre as Rainha
O visual do filme segue o estilo de Burton, com figurinos e maquiagem impecáveis, além dos incríveis cenários (quase que totalmente criados digitalmente) que vão do colorido excessivo, até momentos quase monocromáticos como os castelos da Rainha Vermelha e da Rainha Branca, passando por elementos góticos. Os efeitos especiais e trilha sonora não deixam a desejar, como era de se esperar em uma produção da Disney. 
Mia Wasikowska está bem no papel de Alice, uma personagem difícil, uma vez que não apresenta uma característica marcante ou habilidade especial. Desta forma, os personagens coadjuvantes, como o misterioso gato ou o Chapeleiro, acabam roubando a atenção do espectador quando aparecem com a apagada Alice. Depp está novamente irreconhecível, mas não chega a ser brilhante em sua concepção do Chapeleiro, que ganhou maior destaque na trama e na divulgação do filme.  

Fãs do diretor reclamaram que faltou osadia no roteiro, que preferiu apostar em uma aventura divertida nos padrões da Disney, ao invés de explorar o conceito e personagens do mundo das maravilhas. De certa forma, o próprio desenho da Disney mostrou melhor a bizarrice do ambiente e dos personagens. Apesar das críticas, Alice no País das Maravilhas é um filme divertido, que está longe de ser uma obra-prima do diretor ou um filme perfeito, mas que merece ser conferido, nem que seja para descobrir qual a semelhença entre um corvo e uma escravaninha.