23 de outubro de 2011

Com "Sexo" e "Clímax" Erasmo e Marina voltam ao cenário musical



Como a música popular brasileira anda sem grandes ousadias, a tarefa de injetar um pouco de ânimo no cenário musical ficou para dois “veteranos” desse setor: Marina Lima e Erasmo Carlos. Os dois já até trocaram alguns selinhos numa premiação da MTV alguns anos atrás e chegam ao mercado com bons trabalhos que chamam a atenção pela dose de sensualidade nas letras e uma tentativa de modernizar o som desses dois artistas que andavam sumidos do cenário musical.

Marina, com seu Clímax, continua discreta e elegante em seus projetos, mesmo ao abordar sua busca por prazeres na metrópole com “noites de subir pelas paredes altas” na canção de abertura, Não me Venha Mais Com Amor. Marina parece ter aproveitado o contato intenso com a capital paulistana, sua nova casa desde que se mudou do Rio, apresentando um som revigorado, eletrônico e recheado de misturas sonoras em uma tentativa sincera de atualizar seu estilo. Essa é uma característica de quase todo o CD: a sensação de urgência, como se Marina depois dos 50 anos e da mudança de cidade estivesse ansiosa em aumentar o contato com as novidades musicais. Entres as canções, grande parte composições da própria cantora, destaca-se De Todas que Vivi, um dueto com Vanessa da Mata, em que cada cantora respeitou seu estilo de cantar e de interpretar a canção. São Paulo também ganhou uma homenagem em #Sampa Feelings, que chega a rimar Torá com Lady Gaga, para expressar como a metrópole paulista é cosmopolita. Outra parceria de sucesso no novo CD é a radiofônica Pra Sempre, com o vocalista do Skank, Samuel Rosa, que fecha o álbum de maneira mais calma, como se depois da agitação da cidade e dos questionamentos das relações modernas, Marina diminuisse o ritmo. Clímax é superior ao último trabalho de Marina, o também bom Lá Nos Primórdios, por representar, justamente, essa revitalização e novas parcerias no trabalho da cantora, fugindo dos clichês e dos padrões de outras cantoras brasileiras.

Já Erasmo Carlos continua a safra de bons projetos musicais, depois do elogiado Rock N' Roll, com o lançamento Sexo. Enquanto seus colegas da Jovem Guarda só gravam coletânias ou fazem shows bregas em Jerusalém, o “tremendão” aposta em letras repletas de sensualidade e um projeto ousado, a começar pela capa do cd: muito criativa e interessante. Depois da introdução da empolgante de Kama Sutra, música de Arnaldo Antunes que fala sobre as diversas posições sexuais do famoso livro indiano, Erasmo engata uma das melhores músicas do CD: Jogo Sujo, que chama a atenção por colocar a mulher como a interessada apenas por sexo, sem querer comprometimento amoroso. Essa “nova mulher”, mais interessada no prazer que em romance (que Marina também representa em seu novo disco) aparecerá em outras canções do álbum, como Apaixonado Anônimo. O cd perde um pouco do fôlego da metade para o final, com músicas que não contribuem musicalmente e que pouco acrescentam sobre o tema, muita vezes soando  muito parecidas entre elas. Entre os destaques das músicas mais "calmas" do disco estão Santas Mulheres, Seu Homem Mulher e Vênus e Marte.

Marina e Erasmo conseguiram produzir músicas atuais, fugiram de temas batidos e soam atuais sem apagar o histórico dos artistas e suas características principais. Em ambos os CDs, outro fator em comum chama a atenção: a busca por compositores novos, que injetam sangue novo nas produções. Adriana Calcanhotto, por exemplo, colabora com canções nos dois discos, com músicas acimas da média, que provam, mais uma vez, o talento de Adriana como compositora e sua capacidade de dialogar com diferentes ritmos e cantores.

Clímax e Sexo representam bons momentos nas discografias de seus autores por representarem um esforço em dialogar com questões modernas como sexo, vida urbana, amor... Erasmo e Marina, com todo os anos de carreira de cada, conseguiram ser mais relevantes e interessantes que grande parte dos cantores e cantoras que surgiram nos últimos anos. Mais uma vez, os "veteranos" ensinam como produzir obras de qualidade, com uma pitada de ousadia e sem perder a elegância.