3 de novembro de 2017

DVD Rebel Heart Tour - Em novo show Madonna ressurge mais saudosista



Com o lançamento do CD duplo e do DVD da Rebel Heart Tour, os fãs brasileiros têm a oportunidade de assistir ao show que dessa vez não veio ao país e conferir essa ‘nova’ Madonna, que surge mais saudosista que nunca. Na décima turnê da carreira, a Material Girl deixa um pouco de lado as tecnologias e palcos que parecem Transformers que marcaram os últimos shows e aposta em truques de cena como figurinos deslumbrantes, uma trupe de dançarinos diversificados e um setlist recheado de clássicos oitentistas para levantar o público.

O clássico novo pop

O show segue o padrão que a loira estabeleceu com Blond Ambition e é seguido por 90% das produções atuais, com blocos temáticos separando músicas e conduzindo o espectador pela 'jornada' (como Madonna costuma se referir aos espetáculos) e criando os novos personagens da carreira. Assim, o show começa com Madonna enclausurada com mesmo vestido em que defendeu Sooner or Later na cerimonia do Oscar em 93, uma referencia direta a Marilyn Monroe, o ícone pop supremo do cinema que Madonna recriou tantas vezes ao longo da carreira. Fragilizada na jaula, Madonna contesta a imagem de ícone superficial, convocando os exércitos em Iconic e já emendando com Bitch I'm Madonna.

De forma geral, esse primeiro bloco resume alguma das lutas e polêmicas de Madonna, com o ponto alto em Holly Water, em que freiras sensuais fazem pole dance e uma pecaminosa recriação da Santa Ceia. Após esse começo frenético com a guerreira Madonna, o próximo bloco dá uma acalmada, com estética retrô e o encanto, decepção e superação de um relacionamento. True Blue, música composta para Sean Pean, é resgatada em uma emocionante versão acústica, assim como Like a Virgin é repaginada com Madonna dançando, rolando e rebolando pelo palco... impossível qualquer fã não ficar com um sorriso no rosto de associar esse momento com The Virgin Tour de 85




Depois de uma passada pela fase Erotica com uma sensual performance de S.E.X, Madonna surge com a longa capa, executando com maestria a performance de toureira de Living For Love que levou a cantora ao chão no palco do EMA em 2015. O drama das touradas é só a porta de entrada para o  colorido universo latino, que Madonna sempre visitou em clipes e turnês ao longo da carreira e aqui serve de plano de fundo para os hits La Isla Bonita, Dress to Up e Into the Groove, finalizando com Rebel Heart reforçando várias imagens icônicas da loira. Impossível não sentir falta de pelo menos uma das performances acústicas que Madonna fez ao longo da turnê nesse bloco, como Who's That Gilr, Secret, Don't tell Me, entre outras, que deixaria o bloco ainda mais emocionante. 

Já na reta final, Illuminatti é um interlúdios mais incríveis dos shows de Madonna, com dançarinos se equilibrando em uma interessante coreografia. O brilho dos anos 20 é reforçado por Madonna cantando Music em preto e branco, em um clima de cabaré decadente. Até Material Girl, hit que a cantora já revelou não mais se identificar, surge fazendo referência direta ao clipe com ares de art déco, com Madonna se livrando dos pretendentes até terminar vestida de noiva, em uma clara associação com sua fase oitentista. Para fechar essa 'jornada', depois de uma versão acústica de La Vie en Rose, Madonna faz a festa com convidados VIPS em Unapologetic Bitch e termina voando toda sorridente em Holiday, hit que já encerrou vários shows. 


Edição pesada tira parte da emoção

Funcionando quase como uma turnê de celebração e recapitulação da carreira, a Rebel Heart exibe uma faceta mais vulnerável e acessível de Madonna, sem tantos efeitos de palco e mais interessada em se conectar com o público. É uma pena, portanto, que parte dessa emoção saudosista seja prejudicada nesse registro oficial pela edição que ora tira trechos das apresentações, ora coloca tanta informação em tela que fica difícil de acompanhar a cena. Nessa, até a edição de áudio tira praticamente toda a emoção dos fãs para deixar a base mais alta que a própria voz da Madonna: basta ver qualquer vídeo no youtube gravado por fãs para sentir a diferença. Um pouco mais de apreço na edição teria evitado essa impressão de distanciamento. 

Em entrevista para divulgação desse material, Madonna comentou que planeja futuras turnês mais intimistas, já que acredita que levou as superproduções ao limite ao longo da carreira e agora deseja explorar novos formatos, mais próximo dos fãs e sem tanto apelo tecnológico. Se for realmente um novo posicionamento da cantora, agora que também está beirando os 60 anos, Rebel Heart entrará em sua história com a primeira olhada nostálgica ao passado, sem naftalina, um espetáculo capaz de agradar tanto quem cresceu vendo a noiva de Like a Virgin quanto quem descobriu a cantora dançando Bitch I'm Madonna no youtube, uma comprovação de que no palco ela ainda é a Rainha do Pop.  

29 de junho de 2017

Por que gongar Katy Perry se tornou pop?


Você pode até não gostar dos videoclipes coloridos e dos refrões grudentos, mas é inegável que Katy Perry era uma hitmaker digna de figurar no Olimpo do Pop atual. A cantora acumulava sucessos nas paradas, visualizações no Youtube, mobiliza uma legião de fãs, os katycats, e ainda mantém o feito de ser a celebridade mais seguida no Twitter, com 100 milhões de fãs. Com o lançamento de Witness, porém, a invencibilidade da cantora pareceu sofrer pela primeira vez um certo descaso por parte da mídia e do público em geral, com os haters já anunciando precocemente o primeiro grande fracasso na carreira. Gongar Katy se tornou pop, mesmo que sem um motivo real.


De Pin-Up moderna à testemunha da geração: 

Pode até parecer um passado distante, mas em 2008 Katy Perry surgia na mídia como uma mistura de pin-up moderna com uma boa dose de humor que cantava sobre namorados metrossexuais, homens indecisos, desejos por outras mulheres e noites de bebedeira em Las Vegas. Não demorou para Madonna apontar a artista como uma das queridinhas do momento, posto que ocupa até hoje. A consagração como diva pop definitiva, porém, viria com o segundo trabalho, o bem sucedido Teenage Dream (2010) que conquistou o mérito de ser ter cinco singles no topo das paradas, marca anteriormente só atingida por Michael Jackson.

O aguardado próximo passo da artista veio com Prism (2013), que se afastava um pouco da estética pin-up para seguir o lado mais pop e colorido, mas sem quebrar os padrões dos trabalhos anteriores. Apesar de não ter o mesmo recorde nas paradas, Prism ainda conseguiu emplacar dois grandes hits, Roar e Dark Horse, com o feito do clipe bater o 1 bilhão de visualizações do Youtube. Ao mesmo tempo que seguia popular, entretanto, era inegável que a estética divertida da cantora precisa ser reciclada se quisesse evoluir artisticamente.

É curioso, portanto, que no momento que Katy assumiu o risco de explorar um novo visual e sonoridades parte dos fãs não compreendam essa nova abordagem e fiquem tão presos aos momentos anteriores. É a primeira vez que a cantora se despe da personagem, já que apesar de não se fantasiar explicitamente como Lady Gaga no começo da carreira, Katy com seu visual pin-up, roupas coloridas e acessórios espalhafatosos era também uma construção, uma máscara de escapismo pop. Não à toa Katy contou durante a divulgação que o cabelo loiro da nova fase é uma tentativa de se afastar da imagem áurea de Katy Perry e retomar a aparência que mantinha antes da fama mundial, quando ainda era conhecida como Katy Hudson.

Enquanto cantoras como Lady Gaga, Rihanna e Beyoncé foram recentemente celebradas justamente por apostarem em trabalhos mais pessoais e 'conceituais', longe de fórmulas comerciais e de personagens sensuais, Katy parece sofrer uma desconfiança, como se a questão de vendagem ainda fosse mais importante no fim das contas.

Witness é um flop? 

Apesar de já ser associado como um novo Bionic da geração, no geral, Witness conseguiu uma boa vendagem na primeira semana de lançamento e quebrou a marca de videoclipe mais visualizado no Youtube no primeiro dia de lançamento com os 14 milhões de acessos de Bon Appetit. Mesmo assim, para os haters o sinal de fracasso é evidente já que pela primeira vez o carro-chefe da cantora, Chained to the Rhythm não atingiu o topo das paradas, mesmo com a boa divulgação. Para quem já acredita no fim da carreira da cantora, porém, há ainda uma turnê mundial já marcada para começar em setembro, a Witness Tour, com etapas americanas e européia confirmadas, o que servirá de divulgação e consolidação dessa era como uma mudança passageira ou um novo posicionamento artístico real.
Retornando ao visual do começo da carreira
Quanto a questão musical, Witness não abandona os hits dançantes escapistas, como Bon Appetit, mas expõem questões mais pessoais, como a decepção com a própria geração alienada (Chained to the Rhythm), a famosa briga com Taylor Swift, o posicionamento como uma mulher madura e momentos românticos como a procura por uma 'testemunha' para fazer a vida valer. Sem pretensão de revolucionar ou ditar novos padrões na música, Witness ganha pontos justamente por não tentar simular os sucessos passados e mostrar uma evolução real de Katy Perry. Pode não ser uma obra-prima definitiva, mas indica que a cantora está livre para testar novos timbres, novas temáticas e possibilidades. O que não deixa de ser mais interessante do que lançar um Teenage Dream Parte II, como clamam alguns fãs.

Se a era Witness será marcada como um primeiro grande fracasso de Katy ou um amadurecimento necessário para os próximos trabalhos, ainda não há como afirmar. Por hora, só podemos testemunhar esse novo passo da cantora.

19 de maio de 2017

Nicole Kidman - depois maré ruim atriz retorna aos festivais!


“Preferia que não tivesse a Barbie Nicole”. 

Bastou o trailer de O Estranho que nós amamos (The Beguiled), de Sophia Coppola ser divulgado para os comentários de rejeição a Nicole Kidman pipocarem nas redes sociais, questionando seu talento ou mesmo zombando das supostas aplicações de botox. Apesar de ter sido recentemente indicada nas principais premiações pelo trabalho em Lion - Uma Jornada para Casa (2016) , que também concorreu ao Oscar de Melhor Filme, a atriz hoje parece mais associada aos trabalhos medianos do que as obras-primas que protagonizou nos anos 2000. Situação que pode mudar com os próximos projetos!



De ex-Tom Cruise para estrela dos festivais

No começo da década de 2000 Nicole Kidman conseguiu superar o estigma de ser a ‘ex-Tom Cruise’ para se tornar um dos nomes mais promissores de Hollywood, estrelando verdadeiros clássicos modernos como Moulin Rouge (2001), Os Outros (2001), As Horas (2002) e Dogville (2003). Não por acaso, a atriz era presença constante nas principais premiações e festivais de cinema, sempre associada com produções ousadas, personagens marcantes e diretores vanguardistas. Como ícone de beleza, a atriz também figurou em campanhas e capas de revistas, com ápice do emblemático comercial do perfume Chanel n5. 

Apesar de não sofrer a ‘maldição do Oscar’, já que nunca caiu em ostracismo, nos últimos anos Nicole, porém, entrou em uma leva de filmes que oscilavam entre fracassos comerciais (A Bússola de Ouro 2007, Antes de Dormir 2014), comédias medianas (A Feiticeira 2005, Esposa de Mentirinha 2011), biografias apáticas (Grace de Mônaco 2014, Rainha do Deserto 2015, O Mestre dos Gênios) e até remakes que mal fazem justiça ao original (Invasores 2007, Olhos da Justiça 2015). A sensação é que depois da fase mais promissora a atriz teria entrado em uma leva de atuações automáticas, muitas vezes sendo mais uma figurante de luxo que  que pouco lembrava as atuações marcantes do passado. As manchetes em sites de famosos ressaltando o botox da atriz também ajudaram a criar uma áurea decadente sobre a loira, com uma imagem cada vez mais distante da musa dos festivais de outrora. 

A realidade, entretanto, é que entre esses projetos mais comerciais a atriz seguiu participando de produções ousadas de diretores em ascensão, o problema, porém, é que em sua maioria eram filmes menores, com pouca divulgação ou repercussão na mídia. Entre os destaques  de interpretação temos Margot e o Casamento (2007) de Noah Baumbach, Segredos de Sangue (2012), Obssessão (2012)   e até Reencontrando a Felicidade (2012), pelo qual foi até indicada ao Oscar.


Para os defratores, entretanto, 2017 parece o ano para lembrar o quão talentosa e versátil é a atriz. Nicole voltou aos tapetes vermelhos e premiações com as indicações a Lion no começo do ano e encontrou na TV a oportunidade de conquistar novos fãs com a elogiada minisérie Pequenas Grandes Mentiras da HBO. No papel de uma esposa que esconde as agressões do marido para manter as aparências, a atriz construíu um personagem delicado, cheio de nuances, agradando o público. 

Já a edição de Cannes será o teste final da atriz, com quatro promissores projetos que já despertam o interesse da mídia: O Estanho que Amamos (The Beguiled), de Sophia Coppola que está na competição, How to talk to girls at parties adaptação de um conto de Neil Gaiman e ainda The Killing of a Sacred Deer aguardado projeto do diretor de O Lagosta (2015). Entre os próximos projetos, há também a atuação na minissérie  Top of the Lake: China Girl e com participação até em Aquaman da DC, depois dos boatos que seria a mãe da Mulher Maravilha.

Parece que depois de anos oscilando entre projetos comerciais medianos e filmes alternativos com pouca repercussão, a atriz voltou ao rumo com associações ousadas, personagens interessantes e que demonstram o motivo de ter marcado seu nome entre os grandes talentos de Hollywood, muito além da aparência.