30 de junho de 2013

Comentário - O Grande Gatsby de Baz Luhrmann (2013)




O Grande Gatsby, celebrada obra de Fitzgerald que tornou-se um clássico da literatura por retratar a década de 20, os excessos e o posterior declínio, ganhou novas cores e interpretações na versão cinematográfica de Baz Luhrmann. Em sua filmografia, o diretor nunca foi muito sutil e sempre teve uma tendência ao clichê, com o amor levado às últimas consequências (Romeu + Julieta), um casal dançando pelos céus de Paris (Mouling Rouge) ou uma família tentando se encontrar durante a guerra (Austrália). O resultado de uma trama recheada de sutilezas com o estilo do diretor dividiu opiniões da crítica e do público, como toda obra de Baz, diminuindo o brilho e qualidades de um dos filmes mais interessantes de 2013.
   
Para os fãs do diretor, todos os elementos que o tornaram famoso estão lá: os cortes frenéticos, visual de um clipe de pop music, cenários exuberantes, a trilha sonora anacrônica mas estranhamente funcional e o elenco recheado de astros. Visualmente, todo esplendor da década de 20 é elevado ao quadrado na visão de Baz, com festas e excessos delirantes. Catherine Martin, esposa do diretor e parceira habitual em suas produções, novamente cria figurinos que ficarão na memória do espectador e têm tudo para se tornarem referência na moda. Nesse sentido, o 3D evidencia ainda mais o bom trabalho da fotografia, com camadas de profundidade e recursos que vão além da necessidade de ficar jogando objetos nas cenas. A divulgada trilha sonora também leva para a década de 20 músicas de artistas atuais como Beyoncé, Florence, Jay-z, Will.i.am e Sia. A música-tema, que é repetida em toda a oportunidade até gravar na cabeça do ouvinte, ganhou a interprete perfeita com Lana Del Rey, com estética retrô e voz melancólica. 

O Grande Gatsby talvez seja o filme mais difícil de Baz, por se tratar de um material cultuado mas que não passou pela mesma popularização de Romeu e Julieta, por exemplo. Dessa maneira, o diretor prefere apostar em algumas fichas que já deram certo em produções anteriores do que revolucionar totalmente sua estética. A narração do jovem e inocente Nick Carraway, que chega na exuberante Nova York da década de 20, muitas vezes, lembra o começo frenético de Mouling Rouge e o idealista poeta Christian. O suspense que cercava a aparição de Satine (Nicole Kidman), a estrela do cabaré, se repete aqui com o protagonista. Vamos colhendo pistas sobre o misterioso Gatsby ao longo da trama, construindo a espectativa do encontro, até que finalmente vemos Leonardo diCaprio exuberante em cena, provando que é um dos atores mais carismáticos e talentosos de sua geração. Seu Gatsby é ao mesmo tempo determinado e completamente inseguro, capaz de frequentar o submundo, mas com medo de se reencontrar com a amada.   

Não só Leonardo, mas todo o elenco está muito bem em seus papéis, em especial Carrey Mulligan, como Daisy. Longe de ser a tradicional mocinha ingênua, Carrey cria uma figura complexa: frágil, delicada e ao mesmo tempo sedutora. Nesse sentido, a produção sempre se esforça em tornar Daisy uma verdadeira miragem, como se fosse apenas uma idealização dos homens que a cercam, impecavelmente arrumada e com a voz oscilante, como se fosse chorar a qualquer momento. Sua primeira cena, cercada de cortinas de seda branca, com os braços descobertos aparecendo aos poucos, até mostrar seu rosto em um close, faz a platéia se apaixonar por ela e entender  a motivação de Gatsby. Daisy é como uma musa, que  representa o sucesso, dinheiro e tudo que os homens da época almejavam para se sentirem completos.

É nesse momento que o estilo de Baz pode enganar parte do público: seu cinema de adoráveis chiclês nos faz torcer por uma história que não é clichê. Não há vilões definidos ou obstáculos a serem superados dessa vez, já que todos os personagens, incluindo o casal protagonista, são guiados por sonhos mesquinhos, não abrem mão do poder e não dispensam uma futilidade. Estamos em uma trama em que o protagonista mente sua origem, faz fortuna por métodos ilegais e não mede esforços para atingir seus objetivos. Em determinado ponto, não sabemos mais para quem torcer ou quem sairá ileso desse jogo de aparências.

No fim, essa versão de O Grande Gatsby não será uma unanimidade. Seu maior trunfo é, ao mesmo tempo, seu defeito: ao adaptar um material tão aclamado, Baz não abriu mão de seu estilo. Fãs do livro podem se incomodar com o ritmo frenético do filme, enquanto o público em geral pode não gostar dos desfechos trágicos da trama. No fim, aproveitará mais o belo visual e ótimas atuações, quem estiver com a mente livre de comparações com a obra original ou com as versões anteriores. Afinal, essa não é adaptação definitiva de Gatsby, mas a versão de Baz, com todos os seus clichês, exageros e visual arrebatador.

25 de junho de 2013

Novidades no Pop/Rock Brasileiro - Nevilton e Bárbara Eugênia


Para aqueles que gostam de dizer que que a música brasileira está decadente com o funk e o sertanejo e que não há mais boas produções na MPB, o selo OI Música vem apostando em novos e promissores talentos. Dois lançamentos chamam a atenção nessa leva por representarem evoluções importantes para seus criadores:  Sacode, da banda Nevilton e É O Que Temos, de Bárbara Eugênia.


Nevilton - Sacode

Se o pop/rock nacional anda em uma maré bem apática, com muitas bandas preocupadas em soarem modernas e descoladas, Sacode!, do Nevilton, é um traballho que rema em outra direção: sem pretensão de mudar ou revolucionar a música, muito menos se tornar o hino de uma geração, mas com leveza e conteúdo para não ser dispensável. E o melhor de tudo: sem cair na armadilha de tentar ser o novo Los Hermanos. É na simplicidade que o trio paranaense se destaca, especilamente quando descreve a geração dos jovens inseguros de hoje em dia, que vive "tempos de maracujá" e passam a semana esperando momentos efêmeros de diversão. 

 Sacode! é mais coeso e melhor finalizado que o disco de estréia, De Verdade (2011). Os destaques continuam sendo as faixas que fazem uma crônica do cotidiano, como a ótima Noite Alta que já começa lamentando a rotina massacrante e a falta de diversão nos versos: "na hora de acordar/difícil ficar em pé/ o mundo inteiro cheira café/ e a gente vai trabalhar". É fácil para qualquer um se identificar com o discurso da banda e com o som que eles fazem. Mesmo quando fala de assuntos mais sérios, como a solidão, a banda não deixa o ânimo cair, como em Sacode. Há também espaço para músicas mais pop, com cara de hits que entram em trilhas de novelas, como a fofa Friozinho, as agitadas Bailinho Particular e Satisfação, a mais dançante, que poderia figurar nas das 10+ da Joven Pan tranquilamente. 

Com algumas referências bem estabelecidas e uma mistura de ritmos que não apareciam no primeiro álbum, o Nevilton tem provado que está evoluindo, sem se tornar careta ou se afastar das origens. Ponto para eles, uma vez que cada vez mais o pop nacional carece de músicas com conteúdo e de qualidade. Vale a pena ficar de olho, e com os ouvidos, abertos!