1 de dezembro de 2013

Segundo Semestre 2013 - Prism, ArtPop, Bangerz e Britney Jean

Se na primeira metade de 2013 quase não tivemos novidades das ‘divas’ do pop, o segundo semestre foi recheado de vários lançamentos e as já famigeradas brigas de fãs para defender as musas. Entre tantas polêmicas e lançamentos, quatro álbuns se destacam: 

Katy Perry - Prism   

Depois de Teenage Dream e oito singles de sucesso, Katy Perry passou de ‘aposta’ para o primeiro escalão do pop. Nas primeiras declarações sobre o novo trabalho, Katy dizia que o terceiro álbum de estúdio seria mais pessoal e menos alegre que os antecessores. A cantora nem precisava ter colocado fogo na peruca azul ou 'armar um funeral' da era anterior, já que Prism está longe de ser uma ruptura anunciada, apesar de ser o mais diversificado de sua carreira.

Enquanto os álbuns anteriores tinham conceitos e sonoridades bem definidas, como a estética pin-up de One of The Boys ou a divertida narrativa da adolescência em Teenage, Prism aposta em várias direções, sem, entretanto, se aprofundar em nenhuma referência. Entre os destaques, o primeiro single, Roar, faixa de superação com aquela pitada de autoajuda que faz sucesso hoje em dia, demonstra o quanto Katy sabe fazer hits com refrões pegajosos e poderosos. Walking on Air é a música mais dance já produzida pela cantora e poderia facilmente ser lançada como single para incendiar as pistas de dança, assim como Birthday, claramente inspirada no som de Whitney Houston e Mariah Carey no começo da carreira. O restante das faixas, entretanto, soam bem menos memoráveis que os trabalhos anteriores de Katy e carecem de identidade ou diferencial: This Is How We Do, por exemplopoderia facilmente estar em um álbum de Rita Ora ou Selena Gomez. 

Se por um lado Katy ganha pontos por não tentar fazer uma segunda parte de Teenage Dream, por outro, fica a impressão de que o conceito de Prism foi alterando-se durante a produção e resultado é um conjunto de canções que não se completam 100%. Não que Katy, que se esforça em fixar suas músicas no cenário pop, não consiga reverter essa situação com bons clipes e enorme popularidade. 

Lady Gaga - ArtPop 

Lady Gaga soube como manter o mistério sobre ArtPop, especialmente após o sumiço com a operação no quadril. Depois de tantos meses de trabalho e promessas de “uma revolução musical”, as experimentações com Marina Abramovic parecem funcionar e ArtPop revela-se uma celebração à música pop, com referências claras e um retorno da cantora ao som que a tornou uma sensação na música há alguns anos atrás. Só não deixe-se enganar: há mais pop do que arte nesse trabalho. 

Se com Born This Way a cantora afastou parte dos fãs com bizarrices, discursos de autoaceitação e uma sonoridade menos pop, ArtPop traz de volta as canções dançantes e despretensiosas e nos faz lembrar que, além dos figurinos exuberantes, Gaga canta bem, tem boa produção e propriedade para fazer um álbum com nome tão abrangente. Essa vontade de revelar-se novamente fica clara em Aura, em que Gaga pergunta: “Você quer ver a garota que vive por trás da aura?” ou em uma das melhores faixas do trabalho, a homônima ArtPop. Nesse processo de ‘descobertas’ e reflexões, há momentos divertidos como Manicure, Donatella (sim, a dona da Versace), as celebrações da moda (Fashion) e do próprio espetáculo (Applause). Pena que o segundo single acabou sendo alterado com a mediana Do What U Want já que Venus é infinitamente mais interessante. 

ArtPop parece o trabalho de transição que faltou entre The Fame e Born This Way, com mais diversão e menos bizarrices gratuitas. Pelas últimas apresentações e clipe, podemos ter uma nova fase bem mais simples em figurinos ou produções, mas com uma cantora mais segura do seu potencial, extensão de voz e sem aquele discurso de autoajuda que ultimamente já estava tedioso. Fica a sensação, entretanto, de que o álbum não tem uma música capaz de repetir o sucesso estrondoso de Bad Romance ou mesmo Poker Face, o que poderá representar em uma queda da popularidade e poder midiático da cantora. Outra questão é que a anunciada revolução, que contaria com um aplicativo, um possível álbum duplo e experimentações musicais, acabou ficando só como um boato. Melhor assim, talvez: sem a pretensão de ter ‘o hino da geração’, Gaga não precisará lançar qualquer coisa só para continuar no topo da Billboard.  

Miley Cyrus - Bangerz 

Quem diria que a ex-queridinha-da-Disney se tornaria uma das personalidades mais controversas e comentadas de 2013? Depois da polêmica apresentação no VMA, aparecer nua no clipe dirigido por Terry Richardson e fumar maconha no palco do EMA, Miley apagou de vez o passado como Hannah Montana e conseguiu chamar atenção para Bangerz. Se a estratégia foi forçada ou se ela está se queimando, só o tempo dirá. O resultado, por enquanto, é que muitas pessoas que jamais ouviriam Miley deram o braço a torcer e Bangerz já está entre os grandes lançamentos do ano. 

Miley disse que esse trabalho deveria ser considerado como o primeiro disco, um recomeço total na carreira. Analisando por essa perspectiva, Bangerz é uma estreia com bons momentos, capaz de brigar com as ‘veteranas do pop’, apesar de não ter nenhuma inovação ou mesmo ousadia: faltou rebeldia em grande parte do álbum, só aparecendo algumas vezes como na ótima ‘We Can’t Stop’ (oferecida originalmente à Rihanna) ou  em Love, Money, Party. Fora a polêmica, Miley também mostra que é uma boa cantora no single Wrecking Ball, sobre um relacionamento destrutivo ou na ótima Drive. Em SMS (Bangerz), há até um dueto rapidinho (e um tanto apagado) com outra princesa-disney que se rebelou: Britney Spears. 

Entre várias participações (algumas bem desnecessárias), Get It Right destaca-se pela produção de Pharrel e Adore You, escolhida como terceiro single, mostram que Miley tem potencial em permanecer nas paradas de sucesso e que pode chamar atenção e marcar seu nome na música pop além das polêmicas e declarações chocantes. Se Bangerz é só o começo, estaremos esperando pelos próximos passos de Miley!

Britney Spears - Britney Jean

Mesmo sem a divulgação maciça, só o nome de Britney já é suficiente para que as expectativas sejam altas e seus lançamentos sempre causam comoção na internet. Para aproveitar o melhor desse novo trabalho, esqueça todos os boatos de que a Princesa do Pop iria revolucionar a música ou cantar como nunca antes: Britney Jean é um típico álbum de Britney, com toda a experiência de quem está há anos esse jogo. 

Se o primeiro single, Work Bitch pareceu não ter feito o sucesso esperado, apesar do clipe que relembra seus melhores momentos, Britney ainda tem boas opções para apostar, como Perfume, uma baladinha como há muito tempo Britney não lançava ou Tick Tick Boom, que surge como uma das preferidas dos fãs. Apesar da variedade de produtores e colaboradores, que vão do famigerado parceiro Will.i.am, Sia, Katy Perry e até William Orbit (responsáveis por alguns dos melhores momentos de Madonna), há uma unidade entre as música, o que faz com que Britney Jean seja um daqueles álbuns para se ouvir repetidamente, sem cansar tão fácil. 

Em seu oitavo álbum, Britney não tem mais a necessidade de provar seu talento, se consegue cantar ao vivo ou sua relevância na música pop. O álbum pode não estar fazendo o sucesso esperado nas vendas, nem se tornar um marco na música, mas parece o trabalho mais pessoal de Britney desde Blackout. Ela pode não ser a mais talentosa das cantoras, nem divulgar seu trabalho como antes, mas Britney Jean mostra que que a melhor habilidade de Britney sempre foi escolher músicas contagiantes, que se tornam hinos do pop sem pretensão ou por imposição, como as novatas tentam fazer.  

31 de agosto de 2013

Leave Miley Cyrus alone! - O "desastre" no VMA?


A platéia estava visivelmente constrangida com a apresentação de Miley Cyrus no VMA. Instantaneamente, o assunto dominou as redes sociais e se tornou o momento mais comentado da noite, mesmo com apresentações aguardadas de Katy Perry, Lady Gaga, Justin Timberlake e o retorno de N Sync. Durante a semana, a polêmica sobre a performance que misturava elementos infantis com sexo tomou proporções ainda maiores: não faltaram críticas, piadas e comentários de famosos sobre o caso, defendendo ou crucifixando Miley. A Parents Television Council, conselho de pais para televisão americana, chegou a afirmar que a cantora estava substituindo talento musical por sexo e que a classificação do VMA deveria aumentar. Se por um lado é inegável que a apresentação soou forçada, por outro, Miley conseguiu chamar a atenção necessária e atingiu o objetivo: deixar, de uma vez por todas, a imagem de boa moça que a tornou famosa. 

Ver a até então menininha da Disney seminua no palco lambendo Robin Thicke não seria algo que o público esperaria ver da interprete da Hanna Montana até o começo do ano passado, por exemplo. O comportamento um tanto desequilibrado de Miley nos últimos tempos, na realidade, é o ápice de uma série de mudanças que a cantora passou para enterrar o passado. O processo foi gradual e começou no ano passado, quando ela abandou o longo cabelo ondulado e adotou um corte platinado e raspado nas laterais. Ao receber centenas de críticas pelo novo visual, a cantora postou que se sentia livre e que não cederia as pressões e comentários. Defender seu ponto de vista e visual, diferente de Beyoncé que colocou apliques uma semana depois de cortar o cabelo, revelava uma Miley diferente, disposta a lutar pela opinião. Dali em diante, a cantora aproveitou os eventos e editorais para marcar essa transição e explorar a imagem de uma mulher firme, de opinião. 


Com o novo estilo já definido, Miley encontrou em We Can't Stop, oferecida primeiramente a Rihanna como uma Party in the USA para adultos, o single que marcaria essa re-invenção também na carreira musical. Em uma letra que exalta as celebrações sem limites, Miley achou a forma de dizer que não se importa mais para as críticas e que em "sua festa" é livre para fazer o que desejar. É como se a cantora tentasse zerar sua trajetória musical e conquistar os mesmos fãs de Rihanna, Ke$ha, Lady Gaga... Em uma recente entrevista para a Bilboard, inclusive, Miley disse que todo o trabalho antes do próximo álbum não mais a representa e deveria ser desconsiderado pelos novos fãs. Nesse contexto, a apresentação do VMA simboliza a tentativa, um tanto forçada, de ser o "marco zero" nessa nova fase de Miley.  

Não que a apresentação tenha sido um primor, longe disso. Haveria maneiras muito mais sutis e inteligentes de se impor como uma artista madura do que aparecer com uma lingerie feia e mostrar a língua, para “ter atitude”. Do jeito que foi realizada, faltou sensualidade e sobrou mal gosto. Por outro lado, é chocante constatar que o público que tanto critica Miley continua sendo praticamente o mesmo que criticava Madonna por falar de sexo há mais de 20 atrás. A mesma geração que se orgulha tanto de uma “aparente” liberdade sexual e da troca instantânea de informação, ainda se choca ao ver uma mulher de lingerie na televisão (nesse contexto, inclui-se a reação da família Smith ao ver Lady Gaga no palco, na mesma noite). Será que essa platéia apática de 2013 não acharia a apresentação de Prince em 1991 “muito ousada” e “apelativa”? Será que o antológico beijo lésbico do VMA de 2003 hoje em dia seria considerado uma “tentativa desesperada de chamar atenção?


Além disso, não deixa de ser curioso que outra “cantora Disney” também tenha passado pelos mesmos momentos em busca de maturidade: Britney Spears, após anos como a queridinha do público também quis alterar sua imagem de boa moça, até a sucessão de vexames públicos que culminaram na desastrosa apresentação no VMA 2007, visivelmente alterada, acima do peso e mal conseguindo dublar a própria música. A comparação com Britney pode nem ser tão coincidência, uma vez que Miley conta com a orientação do empresário Larry Rodoph, o mesmo que cuidou da "Princesa do Pop" no auge de sua carreira e teve a direção de Diane Martel, a mesma do clipe 3. Miley percebeu que o público não resiste à  uma "good girl gone bad". 

A atriz Brooke Shields afirmou que Miley deveria repensar as atitudes “desesperadas”. Não seria igualmente desespero se ela continuasse a posar de boa moça e nunca saísse da zona de conforto? Talvez, a apresentação de Miley tenha sido propositalmente ruim para que, pela primeira vez, seu nome não estivesse atrelado ao seriado que a tornou famosa. Além disso, a "má publicidade" parece ter funcionado e Miley está no centro do mundo pop, sendo debatida com um fervor que não se via desde que Lady Gaga usou o vestido de carne. Nos resta torcer que Miley amadureça e perceba que sem talento e inteligência, nenhuma polêmica ou hit se sustentam por muito tempo e que há formas bem mais originais de chocar que mostrar a língua. No fim, infinitamente melhor ter uma apresentação ruim do que uma apática. Ponto para a "nova" Miley.


11 de agosto de 2013

CDs do primeiro semestre de 2013

O primeiro semestre de 2013 não rendeu um hit-pop-arrasa quarteirão a nível de Call Me Maybe ou uma febre da internet como o Gangnam Style. Na falta de revelações, os destaques ficaram nas mãos de artistas consagrados, alguns que até andavam afastados da mídia e voltaram com material inédito após alguns anos. O hit do verão, por exemplo, ficou nas mãos da dupla francesa Daft Punk, com o sucesso de Get Lucky. No Brasil, depois de uma leva de cantoras que seguiam a cartilha Vanessa da Mata, cantores e bandas estão com mais oportunidade de divulgar seus (bons) trabalhos depois do sucesso e reconhecimento de Criolo, Cícero e Silva. A dica é filtrar um pouco o som de fora e abrir bem os ouvidos para o que está rolando por aqui! 

David Bowie - The Next Day


O sumiço de David Bowie ganhava cada vez versões mais mirabolantes: alguns diziam que o camaleão estava com uma doença terminal, outros afirmavam que o cantor só estava decepcionado com a repercussão do último trabalho, enquanto uma parcela acredita que, na verdade, Bowie estava cansado de produzir. Secretamente, entretanto, ele estava gravando e arquitetando seu retorno e deu uma rasteira em toda mídia. Quando achou que estava pronto, Bowie utilizou a internet para anunciar sua nova produção e entregou um álbum que resume várias sonoridades e estilos que ele já adotou ao longo da carreira. A própria capa do CD já indica essa visão saudosa do artista, com a reileitura de sua própria obra. Bowie critica o presente com canções que discutem o culto das celebridades, a velocidade das informações e sensação de estar cada vez mais perdido e um mundo superficial. Entre os destaques, os singles The Stars Are Out Tonight e The Next Day resumem bem esse retorno tão esperado pelos fãs da música. Pode não um trabalho brilhante, mas ouvir novidades de Bowie sempre vale a pena.

Justin Timberlake - 20/20 Experience

Depois de alguns anos dedicando-se a carreira de ator, Justin Timberlake decidiu “trazer a elegância de volta” com 20/20 Experience, projeto dividido em duas partes. Com um sonoridade retrô e mais sofisticada, Justin deixou um pouco de lado os batidões do hip-hop e passos de dança que o transformaram em uma das estrelas mais requisitadas da década passada. Em suas novas investidas, Justin investe mais em baladas do que em músicas dançantes, como Mirros, que faz a ponte entre o trabalho anterior e esse. As melhores faixas, porém, são aquelas em que Justin abandona de vez o personagem anterior, como Suit And Tie e abertura Pusher Love Girl. O problema é que essa sonoridade já não é mais novidade desde que Amy Winehouse estourou e trouxe uma leva de artistas que buscam no passado a inspiração para criar: o próprio Bruno Mars já faz um trabalho nesse sentido. Além disso, a longa duração das músicas chega a irritar em alguns momentos. Agora, resta esperar pela continuação do projeto, que será lançada ainda neste ano.  

Wado - Vazio Tropical

Menos diversificado que o álbum anterior, Vazio Tropical pega carona no sucesso de Silva e Cícero (com direito a dueto) e promete tornar Wado um nome mais familiar aos ouvintes de música-pop-nacional. A produção de Marcelo Camelo, ao mesmo tempo em que cria uma unidade entre as músicas, também deixa o som do cantor sem muita personalidade, como se fosse uma continuação dos trabalhos do próprio Camelo. Não é a toa que os melhores momentos são aqueles que lembram o trabalho anterior, como a belíssima e a delicada faixa Flores do Bem e o samba Quarto Sem Porta. As composições continuam como o diferencial do artista, com uma delicadeza mesmo em assuntos complexos, como a solidão na cidade grande, relacionamentos e a busca da própria identidade. Vazio Tropical pode render a popularidade dos colegas à Wado e fazer com que sua voz doce ganhe a divulgação que merece. 

She & Him - Vol.3 

A dupla despretensiosa, que começou como um projeto alternativo, chega ao seu terceiro volume com status cult e uma constante evolução e amadurecimento. Zooey Deschanel, agora já musa indie, pode não ter uma voz potente, mas compensa com interpretações competentes e o controle cada vez maior de sua habilidade vocal. Com uma sonoridade cada vez mais elaborada, a dupla não deixa de lado o charme retrô que a tornou famosa e não tem medo de evocar The Carpenters, com canções leves. Destaques para as regravações, como Sunday Girl de Blondie, que ganhou uma cativantes versão. Um álbum só com covers poderia render um ótimo Volume 4. Se falta uma canção mais pop, como In The Sun, o terceiro volume rende ótimos momentos, como I Got Your Number Son, a ótima  I Could've Been Your Girl e a baladinha Turn To White. Despretensioso, leve e demonstrando uma constante evolução, sem perder as características, She & Him anda melhor que muito cantor “sério”.

30 de junho de 2013

Comentário - O Grande Gatsby de Baz Luhrmann (2013)




O Grande Gatsby, celebrada obra de Fitzgerald que tornou-se um clássico da literatura por retratar a década de 20, os excessos e o posterior declínio, ganhou novas cores e interpretações na versão cinematográfica de Baz Luhrmann. Em sua filmografia, o diretor nunca foi muito sutil e sempre teve uma tendência ao clichê, com o amor levado às últimas consequências (Romeu + Julieta), um casal dançando pelos céus de Paris (Mouling Rouge) ou uma família tentando se encontrar durante a guerra (Austrália). O resultado de uma trama recheada de sutilezas com o estilo do diretor dividiu opiniões da crítica e do público, como toda obra de Baz, diminuindo o brilho e qualidades de um dos filmes mais interessantes de 2013.
   
Para os fãs do diretor, todos os elementos que o tornaram famoso estão lá: os cortes frenéticos, visual de um clipe de pop music, cenários exuberantes, a trilha sonora anacrônica mas estranhamente funcional e o elenco recheado de astros. Visualmente, todo esplendor da década de 20 é elevado ao quadrado na visão de Baz, com festas e excessos delirantes. Catherine Martin, esposa do diretor e parceira habitual em suas produções, novamente cria figurinos que ficarão na memória do espectador e têm tudo para se tornarem referência na moda. Nesse sentido, o 3D evidencia ainda mais o bom trabalho da fotografia, com camadas de profundidade e recursos que vão além da necessidade de ficar jogando objetos nas cenas. A divulgada trilha sonora também leva para a década de 20 músicas de artistas atuais como Beyoncé, Florence, Jay-z, Will.i.am e Sia. A música-tema, que é repetida em toda a oportunidade até gravar na cabeça do ouvinte, ganhou a interprete perfeita com Lana Del Rey, com estética retrô e voz melancólica. 

O Grande Gatsby talvez seja o filme mais difícil de Baz, por se tratar de um material cultuado mas que não passou pela mesma popularização de Romeu e Julieta, por exemplo. Dessa maneira, o diretor prefere apostar em algumas fichas que já deram certo em produções anteriores do que revolucionar totalmente sua estética. A narração do jovem e inocente Nick Carraway, que chega na exuberante Nova York da década de 20, muitas vezes, lembra o começo frenético de Mouling Rouge e o idealista poeta Christian. O suspense que cercava a aparição de Satine (Nicole Kidman), a estrela do cabaré, se repete aqui com o protagonista. Vamos colhendo pistas sobre o misterioso Gatsby ao longo da trama, construindo a espectativa do encontro, até que finalmente vemos Leonardo diCaprio exuberante em cena, provando que é um dos atores mais carismáticos e talentosos de sua geração. Seu Gatsby é ao mesmo tempo determinado e completamente inseguro, capaz de frequentar o submundo, mas com medo de se reencontrar com a amada.   

Não só Leonardo, mas todo o elenco está muito bem em seus papéis, em especial Carrey Mulligan, como Daisy. Longe de ser a tradicional mocinha ingênua, Carrey cria uma figura complexa: frágil, delicada e ao mesmo tempo sedutora. Nesse sentido, a produção sempre se esforça em tornar Daisy uma verdadeira miragem, como se fosse apenas uma idealização dos homens que a cercam, impecavelmente arrumada e com a voz oscilante, como se fosse chorar a qualquer momento. Sua primeira cena, cercada de cortinas de seda branca, com os braços descobertos aparecendo aos poucos, até mostrar seu rosto em um close, faz a platéia se apaixonar por ela e entender  a motivação de Gatsby. Daisy é como uma musa, que  representa o sucesso, dinheiro e tudo que os homens da época almejavam para se sentirem completos.

É nesse momento que o estilo de Baz pode enganar parte do público: seu cinema de adoráveis chiclês nos faz torcer por uma história que não é clichê. Não há vilões definidos ou obstáculos a serem superados dessa vez, já que todos os personagens, incluindo o casal protagonista, são guiados por sonhos mesquinhos, não abrem mão do poder e não dispensam uma futilidade. Estamos em uma trama em que o protagonista mente sua origem, faz fortuna por métodos ilegais e não mede esforços para atingir seus objetivos. Em determinado ponto, não sabemos mais para quem torcer ou quem sairá ileso desse jogo de aparências.

No fim, essa versão de O Grande Gatsby não será uma unanimidade. Seu maior trunfo é, ao mesmo tempo, seu defeito: ao adaptar um material tão aclamado, Baz não abriu mão de seu estilo. Fãs do livro podem se incomodar com o ritmo frenético do filme, enquanto o público em geral pode não gostar dos desfechos trágicos da trama. No fim, aproveitará mais o belo visual e ótimas atuações, quem estiver com a mente livre de comparações com a obra original ou com as versões anteriores. Afinal, essa não é adaptação definitiva de Gatsby, mas a versão de Baz, com todos os seus clichês, exageros e visual arrebatador.

25 de junho de 2013

Novidades no Pop/Rock Brasileiro - Nevilton e Bárbara Eugênia


Para aqueles que gostam de dizer que que a música brasileira está decadente com o funk e o sertanejo e que não há mais boas produções na MPB, o selo OI Música vem apostando em novos e promissores talentos. Dois lançamentos chamam a atenção nessa leva por representarem evoluções importantes para seus criadores:  Sacode, da banda Nevilton e É O Que Temos, de Bárbara Eugênia.


Nevilton - Sacode

Se o pop/rock nacional anda em uma maré bem apática, com muitas bandas preocupadas em soarem modernas e descoladas, Sacode!, do Nevilton, é um traballho que rema em outra direção: sem pretensão de mudar ou revolucionar a música, muito menos se tornar o hino de uma geração, mas com leveza e conteúdo para não ser dispensável. E o melhor de tudo: sem cair na armadilha de tentar ser o novo Los Hermanos. É na simplicidade que o trio paranaense se destaca, especilamente quando descreve a geração dos jovens inseguros de hoje em dia, que vive "tempos de maracujá" e passam a semana esperando momentos efêmeros de diversão. 

 Sacode! é mais coeso e melhor finalizado que o disco de estréia, De Verdade (2011). Os destaques continuam sendo as faixas que fazem uma crônica do cotidiano, como a ótima Noite Alta que já começa lamentando a rotina massacrante e a falta de diversão nos versos: "na hora de acordar/difícil ficar em pé/ o mundo inteiro cheira café/ e a gente vai trabalhar". É fácil para qualquer um se identificar com o discurso da banda e com o som que eles fazem. Mesmo quando fala de assuntos mais sérios, como a solidão, a banda não deixa o ânimo cair, como em Sacode. Há também espaço para músicas mais pop, com cara de hits que entram em trilhas de novelas, como a fofa Friozinho, as agitadas Bailinho Particular e Satisfação, a mais dançante, que poderia figurar nas das 10+ da Joven Pan tranquilamente. 

Com algumas referências bem estabelecidas e uma mistura de ritmos que não apareciam no primeiro álbum, o Nevilton tem provado que está evoluindo, sem se tornar careta ou se afastar das origens. Ponto para eles, uma vez que cada vez mais o pop nacional carece de músicas com conteúdo e de qualidade. Vale a pena ficar de olho, e com os ouvidos, abertos!  


25 de maio de 2013

Crítica: Marisa Monte - Verdade Uma Ilusão



 
Quando foi lançado, O Que Você Quer Saber de Verdade dividiu opiniões, tanto da crítica quanto dos fãs da, até então, intocável Marisa Monte. Muitos não entenderam o repertório mais popular do álbum, que se distanciava dos últimos trabalhos da cantora, como Infinito Particular. Em entrevista para a Bravo!, Marisa falou sobre essa mudança: o objetivo de reconquistar o grande público e ser tão popular quanto as novas cantoras que surgiram nos últimos anos. A diva intocável no pedestal desceu do Olimpo e quis estar novamente na boca do povo, trilhas de novelas e entre as mais tocadas das rádios.  

Se o álbum tinha o objetivo de fazer as pazes da cantora com o grande público, a turnê Verdade, Uma Ilusão trilha o mesmo caminho, sendo o show mais acessível, colorido e agradável da artista nos últimos anos. Mesmo quem nem é fã de carteirinha ficará impressionado por saber cantar (ou só murmurar) grande parte das letras dos sucessos apresentados no repertório. Não que se trate de um daqueles shows que bandas ou artistas decadentes fazem para comover os fãs e levantar um dinheiro extra. Longe disso. Marisa não usa o passado como uma medalha piegas de que um dia fez sucesso, mas como uma bagagem de quem já tem clássico e soube, como poucas, controlar a direção de sua carreira e amadurecimento artístico. Além disso, o esmero na produção do show, com as projeções e iluminação, torna cada música (mesmo as antigas), uma nova descoberta.

Logo na abertura, com a música título, projeções fazem um jogo com as cores e formas que remetem a capa do álbum e estabelecem o tom do espetáculo. Nesse sentido, Marisa merece aplausos por não cair no problemas da maioria das produções nacionais que utilizam os recursos audiovisuais sem nenhum sentido pré-estabelecido, só para dar um "colorido" no show. Pontuando as músicas nos momentos certos, as projeções ajudam a expandir os sentidos das composições, sem nunca desviar a atenção da cantora, confundir ou cansar o público.   

Em cerca de uma hora e quarenta minutos de espetáculo, ouve-se sucessos mais antigos, como Na Mira (Eu Sei), Beija Eu e a belíssima De Mais Ninguém. Dos últimos anos, também estão lá A Sua, Gentileza, Não Vá Embora e Infinito Particular. Entre os hits, Marisa aproveita para mostrar também as músicas do último álbum, mas sem deixar os ânimos esfriarem. Depois e Ainda Bem são novidades que empolgam e são cantadas em alto e bom som pelo público, comprovando que o objetivo de se divulgar novamente em aberturas de novelas e rádios rendeu pelo menos dois novos sucessos para o repertório. Não deixando nenhuma fase de fora, incluiu-se também dois sucessos do Tribalistas: Velha Infância e Já Sei Namorar

Entre as surpresas da turnê, E.T.C, parceria de Marisa, Arnaldo e Brown, é apresentada pela primeira vez em um show da cantora e ganhou uma nova roupagem, mais próxima do tango. Nesse momento, ela aproveita para celebrar o talento de Cássia Eller. "Saudades não é sentir a ausência, mas a presença de alguém", diz. Outra homenagem acontece no momento mais sensual do show, com Sono Como Tu Mi Vuoi,em que Marisa declara a admiração por Mina Mazzini e o desejo de gravar um dueto, que acabou rendendo a regravação de Ainda Bem por Mina.
Se nos dvds e vídeos Marisa sempre parece um tanto fria, ao vivo ela se mostrou bem carismática, animada e até permitiu que um fã cantasse o trecho de Arnaldo Antunes em Amor I Love You, já no bis. "'É uma emoção quando vocês cantam comigo, mas é ainda melhor quando vocês fazem o backing vocal", disse rindo e pedindo para que a platéia cantasse novamente o refrão do sucesso de 2000, agora em uma versão "voz e violão". É a Marisa "novamente popular", querendo ouvir suas músicas sendo cantadas por todos e não apenas sendo idolatrada pelos críticos cults. 

Bem que se Quis, primeiro sucesso de Marisa, é cantado à cappella e a iluminação vai baixando. Quando o público está imerso na nostalgia da canção, ela sai do palco calmamente, sem se despedir, para não estragar o momento. No escuro, sem nenhuma projeção ou truque, Marisa prova que ainda é uma das cantoras mais interessantes e cativantes da MPB. 

3 de abril de 2013

Nostagia na Cultura Pop – O Retorno dos Grandes Ídolos



Não há como negar: estão faltando ídolos. Seja na música, cinema ou até mesmo na literatura, qual nome atual é capaz de despertar a paixão e interesse dos astros de antigamente? Em uma era em que todos pode se tornar um fenômeno de popularidade, sem a necessidade de uma habilidade especial, é cada vez mais difícil aparecer alguém realmente interessante. Se, por um lado, nunca estivermos tão perto dos nossos ícones, por outro, percebemos mais facilmente suas fragilidades, problemas pessoais e acabamos perdendo a idolatria. Sem as redes sociais ou internet, nossa imagem dos astros era sempre imaculada: sorridentes em entrevistas, impecáveis em bailes ou brilhando nas telas e palcos. Não sabíamos que eles se matavam na academia, que tinham problemas com drogas ou que saiam de casa vestindo pijama. É difícil acreditar que Britney Spears é incrível, depois de ver milhares de fotos dela acima do peso e com roupas comuns no dia a dia. Hoje, qualquer passo dos famosos é registrado, compartilhado e gera um rápido debate. Eles estão cada vez mais como nós.

Na música pop, Lady Gaga parecia recuperar o glamour das grandes estrelas, com ousadias e polêmicas calculadas que despertavam o interesse do público e da mídia. Os excessos, entretanto, acabaram esgotando sua imagem e seus fãs terminaram reduzidos a uma "panelinha". Justin Bieber é outro que já reclama dos efeitos da fama: em um recente show, passou mal, foi parar no hospital e saiu brigando com os fotógrafos. A contradição é que, ao mesmo tempo em que cobrava privacidade, publicava fotos de cada acontecimento em sua conta no Instagram. A mídia continua tentando encontrar quem será capaz de despertar o interesse do grande público e se tornar "A Voz de Uma Geração": Lana Del Rey parecia incrível, até que cantou ao vivo... Adele vendeu milhões, mas parece mais preocupada com a família do que manter a fama. Rita Ora, Jessie J, Nicki Minaj, One Direction... nomes não faltaram nos últimos anos como grandes revelações, que acabaram não vingando ou perdendo o interesse do grande público. Na falta de uma novidade realmente interessante, os "retornos musicais" nunca foram tão alardeados. Artistas consagrados que há anos não lançavam nada estão tendo que correr para cativar um público sedento por grandes ídolos.

Só no ano passado, Madonna provou que ainda dá um banho na concorrência com a turnê MDNA. No Doubt, Mika, Nelly Furtado, Christina Aguilera e P!nk foram alguns dos grandes nomes que também lançaram material inédito após anos. Alguns tiveram retorno comercialmente, outros só conseguiram a apreciação da crítica. O importante foi colocar seus nomes, novamente, na lista de músicas das novas gerações. Nesse ano, tivemos o aguardado retorno do Príncipe do Pop: Justin Timberlake, que tinha estacionado a carreira de cantor para se dedicar ao cinema. Beyoncé, que nunca dormiu no ponto quando o assunto é ganhar dinheiro, também aproveitou a falta de grandes nomes atuais para anunciar uma nova turnê, depois da recepção fria do álbum 4 e o nascimento do bebê. O retorno mais inesperado e midiático, entretanto, foi o anúncio de David Bowie, quase uma década depois de praticamente sumir dos holofotes. O Camaleão do Rock provou que ainda consegue dar uma aula para as novas gerações de músicos e fez o projeto que queria, no tempo que determinou.


No cinema, a situação não é diferente: Hollywood e o público estão saudosos dos tempos dourados. A última cerimônia do Oscar mostrou o desespero da Academia em tentar premiar jovens talentos, como Jennifer Lawrence ou Anne Hathway, como se quisesse indicar "rostos novos" para serem idolatrados. O público, porém, não se convence mais só com um prêmio dourado: Hathway se tornou motivo de chacotas na internet por seu vestido e a fama cada vez maior de ser arrogante e antipática. Já Jennifer Lawrence pode representar bem o estilo "descolada", mas terminou sendo um dos assuntos mais comentados da noite ao cair na escadaria, quando ia receber seu troféu de melhor atriz. 

Nisso, Hollywood aponta para o passado como algo imbatível. Filmes como A Invenção de Hugo Cabret, O Artista e Sete Dias com Marilyn já mostravam essa tendência em buscar nas origens do cinema as possibilidades de encantar os novos espectadores. Grandes astros como Marilyn, Hitchcock e Elizabeth Taylor já rederam longas que procuram, mais do que mostrar suas histórias, ressaltar o que os tornavam únicos. A próxima aposta é Grace de Mônaco, com Nicole Kidman no papel do ícone Grace Kelly. Para um público cada vez menos acostumado a escolher o filme pelos atros, rever essas grandes estrelas é uma viagem ao passado.

Um comercial recente de chocolates causou polêmica (como tudo hoje em dia), ao ser protagonizado por uma Audrey Hepburn digital. A questão sobre “direitos de imagem” ou “apropriação da memória” podem ser debatidas, mas, talvez, o comercial só quisesse mostrar como Audrey era encantadora, delicada e elegante. Quem, atualmente, teria a mesma graciosidade da Bonequinha de Luxo para comer um chocolate no ônibus e soar totalmente plausível? Acreditamos que Audrey é incrível, talvez, por não sabermos como ela era no dia a dia, por não termos fotos dela no Instagram, por não acompanharmos o twitter onde ela descreveria seu cotidiano. Nossa imagem é apenas da mulher imaculada, a diva que sai do seu castelo de sonhos e entrega para nós um pouco de encanto. 

Por isso, não é estranho pensar que Gaga se inspire em Madonna, que grandes atrizes queiram interpretar ícones do passado, que se lotem as fotos e clipes com filtros do Instagram ou que o retorno de David Bowie seja encarado quase como um messias musical. O passado nunca pareceu tão atraente. O problema é que quando paramos para analisar,os grandes ídolos nunca foram infalíveis, nem tinham a pretensão de mudar o mundo... não podemos cobrar deles se nossa geração é fraca de conteúdo. Não será admirando o passado que manteremos a cultura pop viva.