3 de abril de 2013

Nostagia na Cultura Pop – O Retorno dos Grandes Ídolos



Não há como negar: estão faltando ídolos. Seja na música, cinema ou até mesmo na literatura, qual nome atual é capaz de despertar a paixão e interesse dos astros de antigamente? Em uma era em que todos pode se tornar um fenômeno de popularidade, sem a necessidade de uma habilidade especial, é cada vez mais difícil aparecer alguém realmente interessante. Se, por um lado, nunca estivermos tão perto dos nossos ícones, por outro, percebemos mais facilmente suas fragilidades, problemas pessoais e acabamos perdendo a idolatria. Sem as redes sociais ou internet, nossa imagem dos astros era sempre imaculada: sorridentes em entrevistas, impecáveis em bailes ou brilhando nas telas e palcos. Não sabíamos que eles se matavam na academia, que tinham problemas com drogas ou que saiam de casa vestindo pijama. É difícil acreditar que Britney Spears é incrível, depois de ver milhares de fotos dela acima do peso e com roupas comuns no dia a dia. Hoje, qualquer passo dos famosos é registrado, compartilhado e gera um rápido debate. Eles estão cada vez mais como nós.

Na música pop, Lady Gaga parecia recuperar o glamour das grandes estrelas, com ousadias e polêmicas calculadas que despertavam o interesse do público e da mídia. Os excessos, entretanto, acabaram esgotando sua imagem e seus fãs terminaram reduzidos a uma "panelinha". Justin Bieber é outro que já reclama dos efeitos da fama: em um recente show, passou mal, foi parar no hospital e saiu brigando com os fotógrafos. A contradição é que, ao mesmo tempo em que cobrava privacidade, publicava fotos de cada acontecimento em sua conta no Instagram. A mídia continua tentando encontrar quem será capaz de despertar o interesse do grande público e se tornar "A Voz de Uma Geração": Lana Del Rey parecia incrível, até que cantou ao vivo... Adele vendeu milhões, mas parece mais preocupada com a família do que manter a fama. Rita Ora, Jessie J, Nicki Minaj, One Direction... nomes não faltaram nos últimos anos como grandes revelações, que acabaram não vingando ou perdendo o interesse do grande público. Na falta de uma novidade realmente interessante, os "retornos musicais" nunca foram tão alardeados. Artistas consagrados que há anos não lançavam nada estão tendo que correr para cativar um público sedento por grandes ídolos.

Só no ano passado, Madonna provou que ainda dá um banho na concorrência com a turnê MDNA. No Doubt, Mika, Nelly Furtado, Christina Aguilera e P!nk foram alguns dos grandes nomes que também lançaram material inédito após anos. Alguns tiveram retorno comercialmente, outros só conseguiram a apreciação da crítica. O importante foi colocar seus nomes, novamente, na lista de músicas das novas gerações. Nesse ano, tivemos o aguardado retorno do Príncipe do Pop: Justin Timberlake, que tinha estacionado a carreira de cantor para se dedicar ao cinema. Beyoncé, que nunca dormiu no ponto quando o assunto é ganhar dinheiro, também aproveitou a falta de grandes nomes atuais para anunciar uma nova turnê, depois da recepção fria do álbum 4 e o nascimento do bebê. O retorno mais inesperado e midiático, entretanto, foi o anúncio de David Bowie, quase uma década depois de praticamente sumir dos holofotes. O Camaleão do Rock provou que ainda consegue dar uma aula para as novas gerações de músicos e fez o projeto que queria, no tempo que determinou.


No cinema, a situação não é diferente: Hollywood e o público estão saudosos dos tempos dourados. A última cerimônia do Oscar mostrou o desespero da Academia em tentar premiar jovens talentos, como Jennifer Lawrence ou Anne Hathway, como se quisesse indicar "rostos novos" para serem idolatrados. O público, porém, não se convence mais só com um prêmio dourado: Hathway se tornou motivo de chacotas na internet por seu vestido e a fama cada vez maior de ser arrogante e antipática. Já Jennifer Lawrence pode representar bem o estilo "descolada", mas terminou sendo um dos assuntos mais comentados da noite ao cair na escadaria, quando ia receber seu troféu de melhor atriz. 

Nisso, Hollywood aponta para o passado como algo imbatível. Filmes como A Invenção de Hugo Cabret, O Artista e Sete Dias com Marilyn já mostravam essa tendência em buscar nas origens do cinema as possibilidades de encantar os novos espectadores. Grandes astros como Marilyn, Hitchcock e Elizabeth Taylor já rederam longas que procuram, mais do que mostrar suas histórias, ressaltar o que os tornavam únicos. A próxima aposta é Grace de Mônaco, com Nicole Kidman no papel do ícone Grace Kelly. Para um público cada vez menos acostumado a escolher o filme pelos atros, rever essas grandes estrelas é uma viagem ao passado.

Um comercial recente de chocolates causou polêmica (como tudo hoje em dia), ao ser protagonizado por uma Audrey Hepburn digital. A questão sobre “direitos de imagem” ou “apropriação da memória” podem ser debatidas, mas, talvez, o comercial só quisesse mostrar como Audrey era encantadora, delicada e elegante. Quem, atualmente, teria a mesma graciosidade da Bonequinha de Luxo para comer um chocolate no ônibus e soar totalmente plausível? Acreditamos que Audrey é incrível, talvez, por não sabermos como ela era no dia a dia, por não termos fotos dela no Instagram, por não acompanharmos o twitter onde ela descreveria seu cotidiano. Nossa imagem é apenas da mulher imaculada, a diva que sai do seu castelo de sonhos e entrega para nós um pouco de encanto. 

Por isso, não é estranho pensar que Gaga se inspire em Madonna, que grandes atrizes queiram interpretar ícones do passado, que se lotem as fotos e clipes com filtros do Instagram ou que o retorno de David Bowie seja encarado quase como um messias musical. O passado nunca pareceu tão atraente. O problema é que quando paramos para analisar,os grandes ídolos nunca foram infalíveis, nem tinham a pretensão de mudar o mundo... não podemos cobrar deles se nossa geração é fraca de conteúdo. Não será admirando o passado que manteremos a cultura pop viva.

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