O Grande Gatsby, celebrada obra de Fitzgerald que
tornou-se um clássico da literatura por retratar a década de 20, os excessos e
o posterior declínio, ganhou novas cores e interpretações na versão
cinematográfica de Baz Luhrmann. Em sua filmografia, o diretor nunca foi muito
sutil e sempre teve uma tendência ao clichê, com o amor levado às últimas
consequências (Romeu + Julieta), um casal dançando pelos céus de Paris
(Mouling Rouge) ou uma família tentando se encontrar durante a guerra (Austrália). O resultado de uma trama recheada de sutilezas com o estilo do diretor dividiu opiniões da crítica e do
público, como toda obra de Baz, diminuindo o brilho e qualidades de um dos
filmes mais interessantes de 2013.
Para os fãs do diretor, todos os elementos que
o tornaram famoso estão lá: os cortes frenéticos, visual de um clipe de pop music, cenários
exuberantes, a trilha sonora anacrônica mas estranhamente funcional e o elenco
recheado de astros. Visualmente, todo esplendor da década de 20 é elevado ao
quadrado na visão de Baz, com festas e excessos delirantes. Catherine Martin, esposa
do diretor e parceira habitual em suas produções, novamente cria figurinos que ficarão na memória do espectador e têm tudo para se tornarem
referência na moda. Nesse sentido, o 3D evidencia ainda mais o bom trabalho da
fotografia, com camadas de profundidade e recursos que vão além da necessidade
de ficar jogando objetos nas cenas. A divulgada trilha sonora também leva para
a década de 20 músicas de artistas atuais como Beyoncé, Florence, Jay-z,
Will.i.am e Sia. A música-tema, que é repetida em toda a oportunidade até
gravar na cabeça do ouvinte, ganhou a interprete perfeita com Lana Del Rey, com estética retrô e voz melancólica.
O Grande Gatsby talvez seja o filme mais
difícil de Baz, por se tratar de um material cultuado mas que não passou pela
mesma popularização de Romeu e Julieta, por exemplo. Dessa maneira, o diretor
prefere apostar em algumas fichas que já deram certo em produções anteriores do
que revolucionar totalmente sua estética. A narração do jovem e inocente Nick Carraway, que chega na
exuberante Nova York da década de 20, muitas vezes, lembra o começo frenético de
Mouling Rouge e o idealista poeta Christian. O suspense que cercava a aparição
de Satine (Nicole Kidman), a estrela do cabaré, se repete aqui com o protagonista. Vamos colhendo pistas sobre
o misterioso Gatsby ao longo da trama, construindo a espectativa do encontro,
até que finalmente vemos Leonardo diCaprio exuberante em cena, provando que é
um dos atores mais carismáticos e talentosos de sua geração. Seu Gatsby é ao
mesmo tempo determinado e completamente inseguro, capaz de frequentar o submundo, mas
com medo de se reencontrar com a amada.
Não só Leonardo, mas todo o elenco está muito
bem em seus papéis, em especial Carrey Mulligan, como Daisy. Longe de ser a
tradicional mocinha ingênua, Carrey cria uma figura complexa: frágil, delicada
e ao mesmo tempo sedutora. Nesse sentido, a produção sempre se esforça em
tornar Daisy uma verdadeira miragem, como se fosse apenas uma idealização dos
homens que a cercam, impecavelmente arrumada e com a voz oscilante, como se
fosse chorar a qualquer momento. Sua primeira cena, cercada de cortinas de seda
branca, com os braços descobertos aparecendo aos poucos, até mostrar seu rosto em um close, faz a platéia se apaixonar por ela e entender a motivação de Gatsby. Daisy é como uma musa, que representa o sucesso, dinheiro e tudo que os homens da época almejavam para se sentirem completos.
É nesse momento que o
estilo de Baz pode enganar parte do público: seu cinema de adoráveis chiclês nos
faz torcer por uma história que não é clichê. Não há vilões definidos ou obstáculos a serem superados dessa vez,
já que todos os personagens, incluindo o casal protagonista, são guiados por sonhos mesquinhos, não abrem mão do poder e não dispensam uma
futilidade. Estamos em uma trama em que o protagonista mente sua origem, faz
fortuna por métodos ilegais e não mede esforços para atingir seus objetivos. Em determinado ponto, não sabemos mais para quem torcer ou quem sairá ileso desse jogo de aparências.
No fim, essa versão de O Grande Gatsby não será
uma unanimidade. Seu maior trunfo é, ao mesmo tempo, seu defeito: ao
adaptar um material tão aclamado, Baz não abriu mão de seu estilo. Fãs do livro
podem se incomodar com o ritmo frenético do filme, enquanto o público em geral pode não gostar dos desfechos trágicos da trama. No fim, aproveitará mais o belo visual e ótimas atuações, quem estiver com a mente livre de comparações com a obra original ou com as versões anteriores. Afinal, essa não é adaptação definitiva de Gatsby, mas a versão de Baz, com todos os seus clichês, exageros e visual arrebatador.
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