(antes de qualquer coisa, me considero fã de Lady Gaga, daqueles que compraram cds, dvd e ingresso na pré-venda...)
Nessa semana, Lady Gaga está em destaque na mídia brasileira e nas redes sociais pelo alardeado fracasso de venda dos shows no Brasil. O que antes era anunciado como “o show do ano”, se transformou em uma piada difundida. De um lado, os haters que zoaram a promoção de ingressos, concursos e sorteios que praticamente distribuíram convites para tentar reverter a situação. Do outro, os little monsters, fãs aficionados pela cantora que contavam vantagem antes do tempo e agora procuram argumentos para entender ou justificar a realidade.
Tamanha polêmica tem explicação: muitos esperavam ansiosamente pelo momento em que Gaga estaria na pior. Não só os fãs de outras cantoras, que tiveram que ouvir nos últimos anos que só Lady Gaga prestava, mas a própria mídia. Afinal, uma celebridade internacional em uma situação ruim vende e gera muito mais debate que uma estrela em ascensão. Quem não se lembra do cerco da imprensa em torno dos colapsos de Britney Spears, Amy Winehouse e Lindsay Lohan? O monstro da fama cobra seu preço e Lady Gaga terá que lidar com isso, cada vez mais.
– A mãe dos Monstros
O que mudou desde 2008? Como uma cantora que parecia ter tudo nas mãos agora se tornou motivo de chacota? De peruca platinada, laço de cabelo e um óculos de sol, Gaga chamou atenção do público e da crítica ao oferecer uma sonoridade e estética diferente do que estava dominando as paradas em 2008. Nas rádios e premiações, só se ouviam os batidões do hip-hop de Timbaland e Justin Timberlake. O “pop-dance” de Lady Gaga soava moderno e, ao mesmo tempo, estranhamente familiar, com um resgate simpático das músicas dançantes de décadas passadas. Com um visual e proposta diferente, a cantora não demorou para se tornar a “aposta musical” daquele ano.
Com Just Dance e Poker Face nas baladas, a figura de Lady se tornou cada vez mais famosa. Nos clipes de Love Game e Paparazzi, Stefani mostrou que desejava mais que apenas diversão: queria causar polêmicas, influenciar gerações e aproximar a música do cinema, moda e artes visuais. Foi nessa época em que a cantora começou a estreitar relações com os grandes estilistas e grifes, com o importante apoio da Haus of Gaga: um coletivo de artistas, estilistas e produtores que ajudavam a cantora a estar sempre um passo a frente das tendências e conseguir surpreender a cada aparição. Com o relançamento de The Fame, Gaga conquistaria de vez o público com o sucesso de Bad Romance e Telephone. Suas polêmicas eram aplaudidas pelos entusiastas da música pop, fashionistas e até por outros músicos. Nesse contexto, as outras cantoras tiveram que correr atrás do prejuízo e “Gagalizar”: Rihanna, Katy Perry, Beyoncé e Nicki Minaj foram algumas das que tentaram (algumas com sucesso, outras não), adotar um pouco da proposta que Gaga apresentava para a música.
Até aqui, Gaga parecia entender plenamente o funcionamento da música pop, na qual não basta cantar bem ou ter a melhor música, mas é indispensável ter uma imagem forte o suficiente para gravar no inconsciente coletivo. Além disso, com as lições de David Bowie e Madonna, a cantora percebeu que o público deseja ser surpreendido constantemente e que o debate e críticas podem te deixar ainda mais famoso.
Com o clipe Alejandro, entretanto, as coisas começaram a desandar. Até então, o bizarro de Gaga era divertido e fashion, mas no clipe, a polêmica religiosa soava forçada. Com o sucesso da turnê The Monster Ball e vários prêmios, porém, Gaga conseguiu criar o barulho necessário para o próximo projeto, o “hino de uma geração”, Born This Way. A pretensão e expectativa acabou com outra polêmica: a comparação com Express Yourself e a famosa briga com Madonna. Visualmente, o exagero se tornou cansativo e um tanto sombrio, com alienígenas, sereias e pitadas de polêmicas religiosas. O álbum, que dividiu opiniões entre fãs e críticos, trazia uma mensagem de autoaceitação forte e uma pretensiosa mensagem de superação. Dessa forma, já convencida de que era a “Mãe dos Monstros”, Gaga atraiu uma base de fãs que precisavam dessa mensagem e se refugiaram cada vez mais em comunidade particulares, como a rede social que a cantora lançou para os fãs. Todo o humor e inovação dos trabalhos anteriores deram lugar ao egocentrismo e repetição de clichês.
- Fatores Externos
Chegamos em 2012 e esse é o cenário em que Lady Gaga se encontra: com a popularidade em baixa e com o apoio apenas dos monsters. Além disso, a estratégia de passar um ano divulgando o álbum e só sair em turnê depois, deixou a imagem de Gaga um tanto desgastada: muitos nem se recordam que o último single da cantora foi Marry the Night e os clipes dessa era foram os mais fracos da carreira da artista. E, apesar de ter vendido bem no Brasil, Born This Way está longe de ter sido o mesmo sucesso dos trabalhos anteriores, especialmente comparado com The Fame Monster. Faz sentido que muitos não tenham se animado em assistir o show de um CD já “velho” e que não agradou a maioria do público. Se ainda estivesse trabalhando com o álbum, lançando algum single ou clipe nessa época, a turnê estaria mais em evidência.
Além disso, todo esse contexto revela uma tendência do público brasileiro: os shows internacionais e os grandes festivais não são mais raridades no país. Se antes as produtoras podiam cobrar preços exorbitantes para qualquer show, com a certeza absoluta de que o evento seria um sucesso em vendas e público, atualmente, o consumidor de entretenimento está mais seletivo. Para que assistir Lady Gaga por quase mil reais se no mês que vem poderá vir outro artista? Foi erro da produtora apostar em três shows no país, com capacidades exorbitantes e preços que se cobraria para artistas consagrados, como U2, ou Paul McCartney. Poderiam ter optado pelo mesmo esquema de outros shows internacionais, como Beyoncé, que fez um grande show em São Paulo e show menores em outros estados. O preço inicial também foi um fator decisivo: a maioria dos fãs de Lady Gaga não apresentam autonomia financeira (nem são maiores de idade), e não puderam arcar com ingressos, transporte, hospedagem e alimentação do deslocamento para outras cidades.
As ações desesperadas, como ingressos em promoção e vendas coletivas, só tornaram evidente essa série de problemas. A desastrosa entrevista para o Fantástico, em que a edição deixou a impressão de que cantora passa mais tempo cuidando da imagem do que respondendo as questões, inflamou ainda mais os ânimos. Na internet, alguns fãs até jogaram a culpa nos outros: “Tomara que ela nunca mais volte ao Brasil e bem feito que ela cagou e andou na cara dos brasileiros na entrevista pro fantástico, o Brasil é podre! A mulher viajou pelo mundo inteiro esgotando tudo! Pra ferrar, ainda ficam tirando onda com as venda”, dizia um dos fãs nas matérias sobre as baixas vendas dos ingressos.
O saldo disso tudo é que se cantora retornar com a próxima turnê para o país deverá com menos expectativas e mais planejamento. Além disso, seu novo projeto, ART POP, terá que provar que The Fame não foi sorte e que a Gaga ainda pode inovar e manter seu nome na mídia sem precisar usar roupas de carne ou ser comparada com outras cantoras. Será o momento decisivo: ou reconquista os fãs antigos e expande a base de admiradores ou ficará cada vez mais isolada em torre do castelo cenográfico de seu palco, apenas na companhia dos monstrinhos.
Agora, resta esperar que Gaga aproveite essa estadia no Brasil (pelas primeiras imagens, ela parece estar gostando) e que faça um belo show, para tirar o gosto amargo que esse álbum deixou.
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