Tim
Burton não anda em uma fase muito boa: seu último filme, Sombras da
Noite, teve um retorno morno de bilheteria e críticas bem divididas,
indicando que a fórmula do diretor já estaria esgotada. Agora, com a
estreia de seu novo projeto, a animação gótica Frankenweenie, remake de
um curta que fez quando ainda trabalhava como animador, Tim parece que
reconquistou parte da crítica, mas não teve o retorno de público
esperado.
Quem
acompanha a carreira de Burton há mais tempo, entretanto, percebe que a
trajetória nunca foi muito linear, apesar de manter o mesmo estilo em
quase todos os projetos em que esteve envolvido. Como diretor, muitos
acusam Burton de se preocupar mais com a técnica e estética do que com o
desenvolvimento dos personagens ou elaboração da narrativa.
Inegávelmente, seus melhores filmes são aqueles em que os personagens
são melhores explorados, sem abrir mão da temática e estética única que o
transformaram em um dos diretores mais conhecidos e apreciados da
atualidade. Para entender um pouco do talento (e, quem sabe, se animar
para Frankenweenie), veja cinco filmes indispensáveis de Burton:
- Edward Mãos de Tesoura (1990)
Burton
já tinha chamado a atenção do público e da crítica com Os Fantasmas se
Divertem e com o sucesso internacional de Batman, mas o próximo projeto
era seu filme mais pessoal até então, com uma temática que se tornaria
frequente em suas obras:: aqui o protagonista é um monstro de bom
coração, uma criação incompleta que permanece com as mãos de tesouras,
isolado em um castelo. Quase um “A Bela e a Fera” gótico, o filme prima
pelo visual, constratando o colorido da vida “normal”, com o castelo
monocromático de Edward. Com personagens cativantes e história
envolvente, o filme consegue criar cenas marcantes, como a primeira vez
em que neva. Delicado e sensível, Edward também marcou a parceria que
dura até hoje: Johnny Depp e Tim Burton.
- Ed Wood (1994)
No
único filme baseado em uma história real de Burton, temos a históra do
“pior diretor de todos os tempos”. Ed Wood, que como Tim também tinha
fascínio por temas macabros e sobrenatural, é interpretado por Depp com
paixão e respeito. No filme, o diretor é retratado como um apaixonado
pelo cinema que não vê problema em escalar os amigos ou trocar um ator
no meio da produção, além da amizade que manteve com o astro decadente,
Bella Lugosi, o Drácula. Há elementos mais emocionais que em outros
filmes de Burton, com pitadas de drama e até comédia em alguns momentos.
A fotografia em preto branco ressalta uma direção de arte mais contida
no exageros e bem elegante.
- A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999)
- A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999)
Um
conto de suspense ganhou uma roupagem gótica e vitoriana nessa obra de
Burton, que apresenta uma direção de arte e figurinos impecáveis e uma
exótica mistura de suspense, ação e até uma pitada de comédia. Na trama,
um agente da capital (Depp, aqui já acostumado com os personagens
bizarros do diretor), vai até uma vila inglesa desvendar o assassinato
em série que assombra o local. Chegando lá, descobre que o suposto
responsável seria um cavaleiro decapitado que volta do mundo dos mortos
em busca de vingança.Misticismo X Ciência, Tradição X Novo, são alguns
dos embates que surgem ao longo do filme, que ainda hoje impressiona com
seu visual e apresenta influência direta nas obras posteriores de
Burton, especialmente seus filmes mais adultos e pesados como Sweeny
Tood e Planeta dos Macacos.
- Peixe Grande (2003)
Burton
sempre comentou os problemas com os pais durante a infância e usou
Peixe Grande para exorcizar os traumas bem na época em que teve seu
primeiro filho. Há menos sombras ou temas macabros e um tom mais próximo
ao dos contos de fadas, como em Edward Mãos de Tesoura, para a delicada
história de aproximação de pai e filho que vivem sem se entender:
Enquanto Edward Bloom prefere criar histórias fantásticas e
inacreditáveis sobre os momentos importantes de sua vida, o filho,
William, um jornalista cético, deseja apenas a veracidade dos fatos. A
distância entre eles e a diferença nas posturas é o tema de toda
narrativa, que conta com um desfecho emocionante. Com um elenco afiado, o
filme consegue criar cenas marcantes, como aquela em que Edward
encontra o amor da sua vida em câmera lenta. Um dos poucos filmes atuais
que não contou com Depp como protagonista.
- Sweeny Tood (2007)
Burton
vinha de uma boa sequência de filmes e sucessos, como A Fantástica
Fábrica de Chocolate e A Noiva Cadáver, quando teve o apoio para
realizar um desejo antigo: a versão cinematográfica do musical macabro
Sweeny Todd. Diferente de outros músicais, coloridos e divertidos, esse
filme é marcado pelo visual vitoriano, gótico e muito sangrento. Na
história de vingança do barbeiro contra o juiz que acabou com sua vida,
não faltam elementos bizarros típicos de Burton, como assassinatos,
personagens estranhos e situações macabras, como as tortas com a carne
dos cadáveres. Se no quesito voz os astros Depp e Helena Bohan Carter
foram críticados na época, os dois dão um show na atuação, especialmente
a esposa do diretor, que cria uma personagem moralmente questionável,
mas que conquista a simpatia do público com sua visão quase romantica da
tragédia que a rodeia. O filme se tornou uma obra cult, com destaque
nas premiações. Foi um dos últimos momentos em que Burton conquistou um
relativo destaque.
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