O escritor sueco Stieg Larsson conquistou fama mundial pela trilogia Millenium, sucesso editorial que narra as histórias da hacker Lisbeth Salander e o jornalista Mikael Blomkvist. Tamanha popularidade pode até ser surpreendente, já que os livros abordam questões polêmicas como segredos políticos, espionagem, crimes digitais, bastidores mídia, abusos sexuais e o tráfico de mulheres. O autor, entretanto, pouco aproveitou da fama, já que morreu logo após a publicação dos livros, gerando boatos e conspirações sobre o ocorrido. Agora, com a adaptaçao hollywoodiana do primeiro livro, Os Homens que Não Amavam as Mulheres, com direção de David Fincher (Clube da Luta, Seven, O Quarto do Pânico), o interesse de público deverá ser renovado.
Os três livros focam na trajetória de Lisbeth Salander, uma hacker antisocial, anoréxica, violenta, com um passado de agressões físicas e psicológicas e uma trama que envolve as altas cúpulas do governo sueco. No primeiro livro, Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, a hacker auxilia o famoso jornalista Mikael Blomkvist na investigação de um desaparecimento e os dois começam uma inusitada amizade que servirá como base dos outros dois livros. O primeiro livro é eletrizante, com suspense gradual. Serve muito bem como introdução dos personagens e nos faz até ter simpatia pela figura de Lisbeth, a anti-heroína que no fundo tem medo de confiar nas pessoas pelos traumas do passado, explorados no segundo livro da trilogia, A Menina que Brincava com Fogo.
Lisbeth nos cinemas, na Suécia e Hollywood |
Pena que com tantos aspectos positivos e originais, a trilogia termina com o decepcionante A Rainha do Castelo de Ar, no qual a narrativa instigante de Larsson fica repleta de passagens desnecessárias. A mudança de emprego da editora Erica, por exemplo, não ajuda em nada a história principal e parece ter sido colocada só para aumentar a espera pelo clímax. A quantidade de personagens torna-se tão grande nesse terceiro volume que fica difícil acompanhar a história, alguns são até esquecidos no meio do caminho. Fora a tendência do autor em recapitular a história de Lisbeth em todo capítulo. Ainda há bons momentos, que lembram o livro original, como o ataque ao hospital e o julgamento de Lisbeth, um dos melhores momentos da série e um clímax emocionante.
No final do livro é impossível não entender e torcer por Lisbeth, que perdeu a confiança nas autoridades e age por seu próprio código moral. Com uma narrativa direta, Larsson conseguiu criar uma personagem diferente, fascinante e surpreendente, que mistura agressividade e inteligência na medida certa. Há boatos de que o autor deixou um quarto livro da Millenium pronto antes de morrer, e tinha objetivo de transformar a trilogia em uma serie. Se for para continuar enchendo a história com passagens inúteis e deixar Lisbeth como coadjuvante da própria história, é melhor que o quarto livro não seja publicado e deixe a personagem na memória do leitor e na tela do cinema.
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