19 de janeiro de 2012

Comentário - Trilogia Millenium de Stieg Larsson

O escritor sueco Stieg Larsson conquistou fama mundial pela trilogia Millenium, sucesso editorial que narra as histórias da hacker Lisbeth Salander e o jornalista Mikael Blomkvist. Tamanha popularidade pode até ser surpreendente, já que os livros abordam questões polêmicas como segredos políticos, espionagem, crimes digitais, bastidores mídia, abusos sexuais e o tráfico de mulheres. O autor, entretanto, pouco aproveitou da fama, já que morreu logo após a publicação dos livros, gerando boatos e conspirações sobre o ocorrido. Agora, com a adaptaçao hollywoodiana do primeiro livro, Os Homens que Não Amavam as Mulheres, com direção de David Fincher (Clube da Luta, Seven, O Quarto do Pânico), o interesse de público deverá ser renovado.

Os três livros focam na trajetória de Lisbeth Salander, uma hacker antisocial, anoréxica, violenta,  com um passado de agressões físicas e psicológicas e uma trama que envolve as altas cúpulas do governo sueco. No primeiro livro, Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, a hacker auxilia o famoso jornalista Mikael Blomkvist na investigação de um desaparecimento e os dois começam uma inusitada amizade que servirá como base dos outros dois livros.  O primeiro livro é eletrizante, com suspense gradual. Serve muito bem como introdução dos personagens e nos faz até ter simpatia pela figura de Lisbeth, a anti-heroína que no fundo tem medo de confiar nas pessoas pelos traumas do passado, explorados no segundo livro da trilogia, A Menina que Brincava com Fogo.

Lisbeth nos cinemas, na Suécia e Hollywood
Pena que com tantos aspectos positivos e originais, a trilogia termina com o decepcionante  A Rainha do Castelo de Ar, no qual a narrativa instigante de Larsson fica repleta de passagens desnecessárias. A mudança de emprego da editora Erica, por exemplo, não ajuda em nada a história principal e parece ter sido colocada só para aumentar a espera pelo clímax. A quantidade de personagens torna-se tão grande nesse terceiro volume que fica difícil acompanhar a história, alguns são até esquecidos no meio do caminho. Fora a tendência do autor em recapitular a história de Lisbeth em todo capítulo.  Ainda há bons momentos, que lembram o livro original, como o ataque ao hospital e o julgamento de Lisbeth, um dos melhores momentos da série e um clímax emocionante. 

No final do livro é impossível não entender e torcer por Lisbeth, que perdeu a confiança nas autoridades e age por seu próprio código moral. Com uma narrativa direta, Larsson conseguiu criar uma personagem diferente, fascinante e surpreendente, que mistura agressividade e inteligência na medida certa.  Há boatos de que o autor deixou um quarto livro da Millenium pronto antes de morrer, e tinha objetivo de transformar a trilogia em uma serie. Se for para continuar enchendo a história com passagens inúteis e deixar Lisbeth como coadjuvante da própria história, é melhor que o quarto livro não seja publicado e deixe a personagem na memória do leitor e na tela do cinema.

12 de janeiro de 2012

Madonna X Lady Gaga: quem será a Rainha do Pop?

Madonna e Lady Gaga: quem será a verdadeira rainha do pop?
A música pop sempre foi marcada por disputas. Quase como times de futebol, os ídolos musicais têm legiões de fãs dispostos a brigarem por eles e contar cada conquista para derrotar o adversário. Só para ficar nos embates mais famosos tivemos Beatles X Rolling Stones, Michael Jackson X Prince, Britney Spears X Christina Aguilera e muitos outros. Essas dispustas, na maioria das vezes, são movidas pelos fãs e pela mídia sensacionalista e podem até ajudar na venda de discos e na divulgação dos cantores. A maior disputa musical dos últimos anos começará em breve, com duas cantoras brigando pelo trono da música pop: Lady Gaga e Madonna.

No começo das comparações as duas cantoras trocavam elogios
Gaga surgiu, explodiu, causou polêmicas e conquistou destaque na mídia, que logo a proclamou como a nova rainha do pop. Com poucos anos de carreira, a loira lançou três CDS, coletânias de remixes, dvds, emplacou vários hits, produziu clipes bacanas e tornou-se a  queridinha do mundo fashion, dos adolescentes e dos homossexuais, principalmente dos mais jovens que a elegeram como um  ícone de comportamento com o discurso de “seja você mesmo, seja diferente”. Gaga foi a cantora mais debatida dos últimos tempos por sempre surpreender em suas aparições, declarações, roupas bizarras e pela originalidade de suas produções. Nenhuma outra cantora parecia capaz de chamar tanto a atenção quanto ela. Katy Pery, Rihanna, Aguilera, Britney, Ke$ha e até Beyoncé alteraram os estilos para chegar mais perto do efeito Gaga, algumas com sucesso e outras nem tanto.

Loira, fashion e polêmica, Gaga lembrava muito Madonna no ínicio de carreira e não demorou para surgirem as primeiras comparações diretas e boatos de uma “disputa” entre as duas. Publicamente, entretanto, as cantoras trocavam declarações de admiração: Gaga se dizia a maior fã de Madonna (tanto que dedicou The Fame a ela) enquanto a Material Girl era vista nos shows da novata e afirmava ver muito de si mesma em Gaga. Para brincar com os boatos de rivalidade, elas até toparam se estapear em um programa humorístico  e tirar sarro da situação. 

No Saturday Night Live as duas brincaram com os boatos de rivalidade
Aos poucos, a admiração de Gaga por Madonna começou a surgir em “homenagens”: no clipe de Alejandro, dirigido por um dos maiores parceiros de Madonna, o fotógrafo Steven Klein, algumas passagens remetem diretamente à Vogue e Like a Prayer. A polêmica ficou ainda maior com o lançamento da música Born This Way, que foi imediatamente relacionada com Express Yourself, seja pela temática de “ser você mesmo e exigir respeito” e pela sonoridade. A situação ficou pior quando Gaga declarou que Madonna tinha adorado a canção, afirmação que foi rapidamente desmentida pela assessoria da Material Girl. As pequenas “coincidências” não pararam por ai: Gaga lançou o clipe de You and I no dia do aniversário de Madonna, momento em que ela era um dos assuntos mais discutidos do Twitter.  

As "homenagens" de Gaga: plágio ou coincidência?
A  admiração inicial de Madonna por Gaga parece ter se esgotado, já que a loira decidiu revidar no campo que conhece melhor, com grandes lançamentos musicais e muita ironia. A cantora estava envolvida com a produção de seu segundo longa-metragem, W.E e deixou a carreira musical um pouco de lado nos últimos anos. Com o lançamento do novo CD marcado para março, Madonna pretende reconquistar o trono do pop. O primeiro single, Gimme All Your LUV e Masterpiece  já estão disponíveis na internet e aumentaram ainda mais a expectativa da mídia e dos fãs pelo novo álbum. A ansiedade não é sem motivo: a cantora voltou a trabalhar com o “mago” William Orbit, o mesmo produtor de Ray of Light, trabalho aclamado pela crítica e responsável por colocar a cantora de volta aos holofotes no fim da década de 90. Pelo o que indicam os boatos, o novo CD poderá seguir o mesmo caminho. Para isso, Madonna está investindo pesado na produção de clipes, parcerias com novos colaboradores e participações de outras cantoras como Nicki Minaj e M.I.A. 

Gaga enfrenta críticas enquanto Madonna lança seu novo filme
Pela primeira vez desde que começou a carreira, Gaga enfrentará diretamente sua “criadora”, bem no momento em que enfrenta críticas pelos últimos clipes fracos e pelo retorno abaixo do esperado nas vendas do álbum Born This Way. A primeira derrota de Gaga já aconteceu no Super Bowl, com a escolha de Madonna para apresentar as novas músicas no horário mais disputado da TV americana. A segunda derrota de Gaga poderá acontecer no quesito turnê, já que Madonna é a artista feminina com maior arrecadação em tours. Só para se ter ideia, enquanto Gaga arrecadou $227,400,000 com a The Monster Ball Tour em 201 shows, Madonna conseguiu o dobro do faturamento com “apenas” 85 shows. Nesse ano as duas estarão percorrendo o mundo com turnês e essa comparação será inevitável. Gaga, por outro lado, conta com uma base de fãs jovens e ainda é muito popular na internet.

No meio dessa guerra toda, quem ganha é o publico da música pop, que poderá acompanhar esse “duelo” com turnês grandiosas, clipes bem produzidos, apresentações expetaculares e músicas novas de ambas as partes. Se Madonna conseguirá vencer a popularidade de Lady Gaga ainda é um mistério, mas pelo sonoro "Lady Who" que ela soltou em uma apresentação de W.E, podemos ter certeza que essa disputa promete ser, no mínimo, divertida. E você, já escolheu para quem vai torcer?


5 de janeiro de 2012

O melhor de 2011

2011 foi um ano de entressafra cultural, que mais preparou terreno para  grandes lançamentos de 2012 ou divulgou artistas que lançaram trabalhos do ano anterior.


Na música, Adele conquistou o mundo e as paradas de sucesso no mesmo ano em que Amy Winehouse morreu.  Outra cantora britânica foi uma das maiores revelações dos últimos tempos na música pop: Jessie J. A morena conquistou uma base de fãs com boas performances, carisma, voz afinada e composições próprias. Florence + The Machine passou pelo desafio do segundo CD com aval da crítica especializada.  Já no outro lado do Atlântico, o ano não foi muito bom para a música pop americana, com Lady Gaga e Beyoncé atingindo resultados abaixo do esperado. Born This Way, de Gaga, foi anunciado como uma “revolução musical, o hino de uma geração”, mas ficou mais marcado pelas polêmicas de plágio e pelos clipes ruins de The Edge Of Glory e Marry The Night. A loira está rodando o mundo tentando alavancar as vendas do cd, inclusive lançando versões diferentes, como um álbum de remixes. Já Beyoncé não teve com “4” a popularidade dos trabalhos anteriores, ainda mais com a gravidez da cantora que não deu espaço  para sair em turnê. Bruno Mars, Justin Bieber, Rihanna e Katy Perry seguiram lançando singles de sucesso e dominando as premiações, principalmente aquelas que dependiam de votação popular. 


Na música brasileira, tivemos mais algumas cantoras/compositoras que seguem a escola de Vanessa da Mata, com a consagração de Tulipa Ruiz, que saiu do gueto alternativo e figurou até em premiações da MTV e especiais de TV. Filipe Catto chamou a atenção da mídia paulistana com seu cd de estreia e shows intensos. Criolo conquistou os principais prêmios do VMB, a Rolling Stone chegou a eleger duas de suas músicas como as melhores do ano. 2011 foi marcado pela ousadia dos “veteranos”, com Marina Lima e seu Clímax, Gal Costa e um disco de música eletrônica experimental e Erasmo Carlos com um trabalho sobre sexo. Até Chico Buarque lançou um disco de inéditas. Nessa onda de “ousadias”, Marisa Monte acabou sendo criticada por apostar no terreno já explorado pela cantora em “O que você quer saber de verdade”, apesar da qualidade indiscutível do trabalho. O Brasil confirmou que está na rota dos shows internacionais, com U2, Shakira, Katy Perry, Kesha, Britney Spears, Justin Bieber e Rihanna lotando shows. O Rock'n Rio e outros festivais também ajudaram a manter a agenda de shows lotada por todo o ano.


Na TV, as séries mais uma vez mostraram que não devem em nada para o cinema no quesito roteiro, elenco e até efeitos especiais. Com uma qualidade digna das telonas, Game Of Thrones chamou a atenção do público com a história que mistura magia de Senhor dos Anéis com intricadas tramas políticas, personagens complexos e uma produção caprichada. American Horror Story destacou-se como uma das tramas mais interessantes e uma das séries mais instigantes dos últimos anos, acompanhando uma família desestruturada em uma mansão mal assombrada. A atuação de Jessica Lange, inclusive, garantiu uma indicação ao Globo de Ouro para a atriz. Depois de uma segunda temporada confusa, com histórias e personagens desinteressantes, Glee voltou aos rumos na terceira temporada, com números musicais memoráveis e menos drama barato. The New Girl parecia a série perfeita para mostrar toda a “fofura” e delicadeza de Zooey Deschanel, entretanto, nos últimos episódios a graça parece estar acabando e a falta de um roteiro mais elaborado está se tornando crucial para a sobrevivência da musa indie. Na TV brasileira, Rafinha Bastos foi a figura polêmica do ano.


Nos cinemas, Cisne Negro comprova que nem sempre o filme ganhador do Oscar é o melhor, nem o mais memorável, já que a sombria trama da bailarina que faz de tudo para ser perfeita no papel do cisne negro já se tornou uma obra pop, imitada e comentada. Almodóvar também se mostrou mais sombrio e menos colorido em A Pele que Habito, bom suspense que mostra que o diretor ainda consegue se reinventar e gerar tramas ousadas, criativas e instigantes. Melancolia de Lars Von Trier foi prejudicado pela polêmica em Cannes, que encobriu o perturbador filme de Von Trier sobre o fim do mundo e a incapacidade de reagir perante uma tragédia iminente. Menos polêmico e sombrio, Woody Allen cativou o público com Meia Noite Em Paris, uma encantadora trama que nos faz sair do cinema alegres, coisa rara hoje em dia. A Árvore da Vida, de Terrence Malick, garantiu prêmios ao excêntrico diretor. 


Entre os blockbusters, o final emocionante de Harry Potter consagrou uma das melhores e mais lucrativas séries cinematograficas de todos os tempos. O menino bruxo deixa uma legião de fãs que cresceram lendo e assistindo aos filmes. O final de Amanhecer também foi dividido, para aumentar ainda mais os lucros da saga Crepúsculo e demorar mais para Bella ter seu final feliz.  Piratas do Caribe e Transformers foram mais do mesmo, para o bem ou para o mal, e renderam muito bem nas bilheterias, mostrando que o público, muitas vezes, está mais interessado em ver o que já conhece. Thor e Capitão América, da Marvel, serviram mais para preparar o terreno para Os Vingadores do que produzir um grande filme de cada herói. Já Lanterna Verde cometeu o mesmo erro de outras adaptações e acreditou que efeitos especiais salvariam um roteiro fraco. Duas séries tiveram suas origens recontadas em bons filmes: X-men Primeira Classe e Planeta dos Macacos - A Origem. Carros 2 não foi nem de longe um dos melhores trabalhos da Pixar, enquanto Kung Fu Panda 2 mostrou uma trama ainda mais interessante e adulta. Os Smurfs, Os Muppets, A Hora do Espanto e outros filmes mostraram que a década de 80 ainda pode gerar interesse nos cinemas.


Para 2012 teremos a aguardada segunda temporada de Game Of Thrones, que promete mais ação. No terreno musical, o lançamento mais comentado é o novo cd de Madonna, o primeiro em mais de quatro anos, que está sendo descrito como uma mistura das boas letras de Ray of Light com a energia para cima de Music, com participações de M.I.A e Nick Minaj. Nos cinemas teremos Tim Burton retornando as origens em uma animação, depois das críticas divididas em Alice. Os Vingadores será a união dos heróis da Marvel em um filme aguardado pelos nerds desde dos primeiros filmes de super heróis. Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge promete ser o final impactante da nova trilogia do homem morcego, depois de dois filmes que foram sucesso de público e crítica. 2012 promete ainda mais lançamentos, debates e novidades que 2011!

3 de janeiro de 2012

Comentário - Ceremonials de Florence + the Machine

O VMA 2010 foi marcado por apresentações desinteressantes, excesso de playback e Lady Gaga vestida de carne. Na festa da MTV daquela noite, uma apresentação chamou a atenção de todos, inclusive de Gaga: uma ruiva meio hipponga com voz poderosa e uma música pop diferente. Depois disso, a banda Florence + The Machine se tornaria conhecida fora do gueto alternativo britânico e a vocalista, Florence Welch, representaria uma figura diferente das divas do pop americano e se transformaria em musa indie. 


Agora, já queridinha da crítica especializada, com uma base de fãs formada e apelo fashion, a ruiva enfrenta o desafio do segundo CD com o lançamento de Ceremonials. Pela recepção do trabalho, bem aceito pela crítica e com comentários positivos em fóruns na internet, Florence parece ter acertado novamente e agradado aos fãs, mesmo com algumas diferenças do trabalho anterior. Visualmente, algumas alterações já chamam atenção para os rumos do projeto: menos “hippie”, mais clássico (remetendo as antigas divas do cinema) e bem mais sombrio. 

Florence na apresentação do VMA 2010
Ceremonials traz alguns elementos que tornaram Florence tão conhecida em seu CD de estreia, o ótimo Lungs: boas letras, arranjos que misturam diferentes elementos e formam um som meio místico, sem perder a raiz pop. A produção continua primorosa, com destaque para músicas mais "cruas", mais próximas do rock. A voz de Florence está ainda mais controlada, conseguindo soar poderosa ou como um sussurro quando necessário, que demonstra maturidade musical da cantora. A grande diferença de Ceremonials é o tom mais sombrio e introspectivo em todo trabalho. Há menos canções que  leves como You've Got The Love ou uma música tão impactante quanto The Dog Days Are Over

Como o nome já diz, o tema desse novo álbum são rituais, reflexões sobre a morte e espiritualidade. A temática ganhou mais força com  os clipes lançados até agora, como Shake It Out que mostra Florence em uma festa de grupo ligado ao ocultismo, em uma clara referência à De Olhos Bem Fechados, de Kubrick. Ceremonials  mantém esse clima ocultista, com destaques para Seven Devils, What  The Water Gave to Me e No Light, No Light

Mesmo com as mudanças na temática e sonoridade, Florence consegue soar como ela mesma e estabelecer conexão com o trabalho anterior. A ruiva pode não ser um sucesso estrondoso de vendas e popularidade como Adele ou Amy Winehouse (só para citar as duas últimas sensações britânicas), nem tão performática quanto Jessie J, entretanto, Florence prova que é possível conquistar uma legião de fãs e o  interesse da mídia, sem perder a identidade e qualidade no trabalho.