Não estranhe se beirando os 30 anos, você começa a assistir novamente a MTV. Focado nessa geração que ‘deu uma esticada’ na adolescência e ainda vive mais dilemas que certezas, dois reality shows do canal focam nesse grupo específico de telespectadores. Enquanto Are You The One é um reality de relacionamentos amorosos, com o objetivo de formar 10 casais ‘perfeitos’, Adotada foca nas relações (nem sempre agradáveis) em família e as diferenças entre criações.
Se no começo dos anos 00 a MTV, ainda na era pré-youtube e banda larga, era a responsável por ditar as tendências e os ícones jovens, como os clipes que marcaram gerações e os comportamentos que seriam copiados, a emissora sofreu a decadência quando o acesso a música, vídeos e entrevistas se tornaram acessíveis a distância de um clique, no momento em que você desejar. Não tentando mais competir com a Internet ou retomar o espaço que um dia teve, o canal acerta a mão novamente ao oferecer entretenimento fácil e que refletem alguns comportamentos bem atuais, sem julgamentos ou lições de moral.
Com 20 jovens bonitos, cheios de estilo e solteiros, Are You The One é um reality de formato estrangeiro com o objetivo de encontrar 10 pares ideais. Em uma época de Tinder, Grindr e Badoo, em que o match perfeito pode estar no clique certo, os solteiros são isolados em uma casa maravilhosa e devem encontrar a pessoa que, por testes de personalidade, foi escolhida como ‘par ideal’. Com a primeira temporada ainda em exibição, nos episódios acompanhamos competidores que tentam manter uma postura madura no primeiro momento, mas que logo se revelam ciumentos, egoístas e, muitas vezes, sem tanto conteúdo.
Com provinhas sem criatividade (normalmente envolvendo os participantes com pouca roupa) e brigas ao nível de novela mexicana, Are You The One é um espelho das relações atuais, em que nem sempre o ‘par perfeito’ é a melhor escolha, já que não é raro os participantes se apaixonarem por candidatos que não são os seus indicados compatíveis. Também é curioso como em geral os jovens se mostram bem imaturos quando precisam conversar entre eles, expressar opiniões ou até mesmo argumentarem entre si. Não é raro ver homens se comportando como meninos, jogando capoeira, tentando ‘chegar nas meninas’ ou em rodinhas conversando sobre exercícios físicos, enquanto as meninas assumem a tarefa de arrumarem a casa, fofocarem entre si e cozinharem. Também não faltam inimizades entre elas, como quando uma menina propôs a troca de casais, objetivo do programa, logo foram as outras colegas ficaram contra ela começaram a taxá-la como ‘piriguete’. Em uma época de conquistas feministas, ainda falta uma mudança no comportamento e atitude de muitas mulheres, que ainda julgam quando uma delas falam abertamente de seduzir um homem e não espera que ele tome a atitude.
Com a proposta de visitar uma nova casa e ‘ser parte da família’ por episódio, Adotada é outro reality que chama atenção por choques culturais e sociais. Maria Eugenia, produtora de moda, DJ e ex-namorada do Supla (que aparece em todos os episódios), é magra, bem produzida, antenada, veste as melhores grifes do mundo e chega aos 27 anos ainda querendo experimentar novidades. Com uma segunda temporada já marcada para estrear em abril, Adotada mostrou na primeira temporada cerca de 10 famílias diferentes, em que a ‘filha adotada’ teve que encarar o dia a dia de comunidades hippies, vendedoras de acarajé, mães obcecadas por disciplina e muitos filhos mimados.
Seguindo a proposta do ‘Troca de Família’ ou ‘Super Nanny’, que busca o choque de gerações e criações para dar dinâmica ao programa, Adotada renova a fórmula por ser protagonizado por Maria Eugenia, que oscila entre momentos em que se diz ‘madura para a idade’, entre outros que parece disposta a ir curtir a balada com seus ‘irmãos adotivos’ e pouco se importar com as consequências do que fala. Marieu, como é chamada pelos fãs, também é autêntica em demonstrar um comportamento típico da nossa geração, ao defender seu discurso, mesmo que isso muitas vezes signifique ignorar outros argumentos ou ideias. No mesmo episódio em que defende um jovem homossexual e finge ser transsexual para o pai dele, com intuito de debater a diversidade sexual, ela dá risada em uma apresentação de dança em que mulheres acima do peso dançavam.
Talvez sem o objetivo, a nova MTV acerta ao demonstrar os comportamentos dessa nova geração de jovens, que chega a idade adulta ainda oscilando com muitas dúvidas. Os programas se destacam justamente quando retratam essa inconstância tão comum em nossos dias e, sem dúvida, soam mais autênticos que outros programas desse gênero. Não se surpreenda se de repente, você também se ver torcendo para que aqueles jovens encontrem seus pares ideais, que Marieu entre em choque com novas famílias e que, pouco a pouco, retratem muito da sua rotina e te façam pensar em novos dilemas e possibilidades!
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