Se antes o cinema era o lar dos grandes vilões, atualmente, é na TV que podemos nos encantar com a malícia e maldade de dois grandes representantes: Hannibal, o brilhante psiquiatra canibal da triologia de Thomas Harris e Normam Bates, do clássico Psicose.
Com o retorno das duas séries em novas temporadas, essa pode ser uma ótima oportunidade de provar que o pior dos monstros pode ser (muito) humano.
Hannibal
Os fãs do personagem icônico do cinema temiam que a série não fizesse jus ao personagem, entretanto, até os mais receosos tiveram que dar o braço a torcer ao conferirem o resultado da primeira temporada de Hannibal. Na série, acompanhamos o brilhante psiquiatra auxiliando Will Graham, um consultor do FBI com a estranha capacidade de recriar cenas de crime e pensar como os assassinos agem. Ao longo dos 13 episódios, é impossível não fascinar-se com um dos melhores vilões de todos os tempos.
Se nos filmes já tínhamos Hannibal dentro de uma cela e só ouvíamos falar de seus crimes, na série temos a oportunidade de vê-lo convivendo em sociedade, conciliando a rotina de médico respeitado e refinado, enquanto tenta esconder os assassinatos brutais que comete, sem um pingo de rancor. Nesse sentido, apenas na televisão teríamos a oportunidade de explorar outros aspectos, como as sessões de terapia que o próprio Hannibal faz e o modo que ele manipula os que o cercam.
Nesse sentido, Mads Mikkelsen cria um Hannibal misterioso, charmoso e bem menos exótico que a figura imortalizada por Anthony Hopkins, aproximando-o da realidade. Se alguns fãs reclamam que lhe faltam a ironia e o humor negro, devemos lembrar que durante a série, o personagem ainda se esforça em parecer normal e evitar qualquer suspeita. Hugh Dancy, também merece destaque ao fugir do padrão que esperamos de agentes do FBI e trazer um homem alterado, febril e quase tão psicótico quanto os assassinos que deve ajudar a prender.
Já que o expectador conhece desde o primeiro episódio o segredo de Hannibal, a série não perde tempo em investir na tensa relação entre o assassino e o agente, não abre histórias paralelas e não esquece os personagens e acontecimentos anteriores, como frequente acontece em outras séries, como American Horror Story. Com uma direção de arte primorosa, que destaca ainda mais os bizarros crimes e personagens, a primeira temporada de Hannibal deixa mistérios soltos o suficiente para manter o interesse e fazer jus ao personagem.
Bates Motel
Se em Hannibal já encontramos o protagonista no auge de sua capacidade e inteligência, em Bates Motel encontramos o jovem Norman Bates, muito antes de se tornar o famigerado protagonista de Psicose. Temos a chance de ver, aos poucos, os motivos que deturparam sua personalidade, especialmente a relação conturbada com a dominadora mãe, Norma.
Norman mudam-se para um antigo hotel na beira da estrada comprado por Norma, na tentativa de refazer sua vida depois da morte do marido. A fantasia em tornar o hotel um ambiente acolhedor não demora muito e logo os dois notam que estão em um ambiente nada amigável e rodeado de mistérios. Não espere, entretanto, assassinatos por capítulo: a primeira temporada de Bates Motel é focada em perigos bem reais, como traficantes de drogas, estupro, contrabando, exploração de mulheres e outras surpresas.
Fora do suspense, temos a chance a de ver Norman se relacionando com colegas de classe, experimentando as primeiras decepções amorosas e, principalmente, tendo que lidar com a influência de Norma, que exige sua atenção em tempo integral e parece disposta a protegê-lo sempre, mesmo que use métodos bem questionáveis na maioria das vezes. Vera Farmiga equilibra bem as nuances desse difícil personagem, assim como Freddie Higmore, que oscila entre o sonhador adolescente e atos de crueldade.
Se alguns fãs reclamaram da atualização da trama e um certo excesso de personagens secundários, nem sempre bem desenvolvidos, devemos ressaltar as boas atuações e a trama bem construída, que vai revelando detalhes sem pressa e com uma sutileza nem sempre comum em séries de suspense. A esperança é que segunda temporada mostre ainda mais o amadurecimento da trama e, obviamente, desenvolva ainda mais a personalidade complexa de Norman.
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