Em meio a toda maquiagem, roupas coloridas e tramas previsíveis de reality show, RuPaul’s Drag Race mantém o sucesso após seis temporadas por também trazer lições valiosas sobre competição e superação de desafios que valem para qualquer pessoa, mesmo aqueles muito fora do circuito pop ou do mundo LGBT.
Quase sempre vítimas de preconceitos e com histórias familiares nem sempre com finais felizes, os participantes do reality encontraram na transformação de drag queen a forma de se tornarem artistas admirados, expressarem os talentos e serem capazes de zombarem do próprio sofrimento, quando necessário. Entre as várias lições que podemos tirar do programar, algumas se destacam:
1 - Vale (quase) tudo para atingir os objetivos
Diferente de competições ou concursos de talentos específicos, em que vence o melhor cozinheiro ou ou cantor, em RuPaul’s Drag Race as competidoras devem saber costurar, cantar, dançar, fazer um show de comédia, imitarem as celebridades e ainda se maquiarem para arrasar nas passarelas. Entre os desafios semanais, há atividades individuais e em grupo e nesses momentos vemos que para ficar entre os melhores da semana vale de tudo: desde colar um vestido no próprio corpo com cola quente, reatar inimizades de anos com as rivais e até falar mal das amigas para os jurados. Fora os competidores que tiveram que aprender na marra como cantar ou dançar para não fazerem feio para os jurados, como Alaska (da quinta temporada) no desafio da dança ou Trinity K. Bonet que superou a timidez para fazer um show de comédia stand-up na última temporada.
2 - Melhor Ousar que não Marcar
As últimas vencedoras do programa têm algo em comum: todas tiveram coragem de ousar e sair do padrão esperado para uma drag queen ‘tradicional’. Logo na terceira temporada, Raja chamou a atenção justamente por não se parecer com nenhuma competidora e trazer novidades para os desafios, sempre com sua pitada ‘fashion’ e boas referências da moda e cultura pop. Criticada por parecer ‘um homem de vestido’, Raja não usava os tradicionais enchimentos que algumas competidoras usam para deixar seu corpo mais feminino e apostava na estética andrógina, com o corpo bem magro e delgado para se destacar. Na última temporada, Milk também foi criticada justamente por não seguir uma estética mais feminina, aparecendo inclusive com uma barba postiça no primeiro desafio e de homem em outro. O preço, nesse caso, acabou sendo alto: Milk saiu na metade do desafio. Mesmo sem levar o grande prêmio, a drag figura fácil entre as mais marcante das últimas competidoras.
3 - Confie e elabore o próprio estilo
Entre as participantes de RuPaul’s Drag Race há diferentes estilos e talentos: algumas se garantem na comédia, enquanto outras imitam celebridades perfeitamente e há ainda aquelas que se esforçam em parecer mulheres de verdade. Nem sempre as próprias competidoras entendem as outras e atritos acabam sendo inevitáveis, como na quarta temporada, com PhiPhi O’Hara e Sharon Needles, vencedora da edição. Sharon apresentava uma mistura ousada de estilos e sabia explorar como poucas sua estética gótica para vencer os desafios. Conhecendo o próprio potencial e talento, logo no primeiro desafio enquanto as outras competidoras apresentavam suas versões de guerreiras pós-apocalipse, Sharon entrou como um zumbi mutante, jorrando sangue pela boca e surpreendendo a todos, inclusive os jurados. Bianca Del Rio, a última rainha coroada, também soube como usar a comédia de insulto como diferencial, conquistando cada vez mais admiradores no caminho, até aqueles que ela tirou sarro. Definir e explorar um estilo ajuda a fixar a marca e mostrar aos outros os diferenciais.
4 - Tenha boas referências
Muitas participantes prejudicam-se por não estarem atualizadas ou conhecerem diferentes estilos de artistas, produções culturais ou mesmo personagens pop. Em desafios maiores, que exigem imitações, criação de roteiro ou interpretação, conhecer além do mainstream pode ser o fator determinante para o sucesso. A excêntrica Jinkx Monsoon, vencedora da quinta temporada, destacou-se ao escolher Edie de Grey Gardens em um jogo de imitações de celebridades. Enquanto as colegas imitavam cantoras pop contemporâneas como Katy Perry, Kesha e Taylor Swift, Jynks deu um show de atuação e improviso ao caracterizar-se como a prima decadente de Jackie-O. Mesmo com as colegas criticando a escolha, Jinkx manteve a opinião e soube usar o conhecimento para brilhar. No mesmo desafio na temporada anterior, Chad Michael também surpreendeu ao praticamente encarnar Cher e provar que além de uma boa ideia, é necessário pesquisa, preparo e dedicação para ter bons resultados.
5 - Esteja preparado para dublar!
Você lutou, tentou, se colou com cola quente e mesmo assim o resultado não foi dos melhores? Muitas vezes, essa pode ser a chance de dar a volta por cima e provar o valor e desejo de continuar na competição. ‘Na sua última chance de impressionar’, é necessário estar preparado para dublar ‘pela própria vida’. Nesses minutos derradeiros é necessário buscar força e motivação e não deixar que a concorrente chame mais atenção ou atraia os olhares dos jurados. Uma sílaba fora do tom pode ser o seu ‘sashay’ do prêmio. Nessa hora, a melhor coisa defender-se da maneira que você mais sabe e apostar no talento, seja com humor, interpretação ou simplesmente tirando a roupa. Só não vale tentar erguer a outra drag….