22 de abril de 2012

Comentário - W.E. O Romance do Século de Madonna


Se no campo da música pop Madonna mantém uma carreira icônica, no cinema a história sempre foi bem diferente. Ela desejava ser uma atriz premiada e reconhecida pela crítica (até se casou com um ator talentoso e um diretor respeitado para lhe dar um suporte), mas sempre foi motivo de chacota pelos colegas e detonada pela crítica. Suas melhores interpretações são aquelas em que pode injetar um pouco do seu próprio jeito e personalidade, como Procurando Susan Desesperadamente, Dick Tracy e Evita. Depois de abandonar a carreira de atriz, Madonna não desistiu do cinema e agora dirige filmes, ainda sem o sucesso e reconhecimento esperado.

Chegamos então a W.E – O Romance do Século, o segundo longa-metragem da cantora que foi lançado ano passado em festivais. Madonna mostrou-se tão obsessiva por esse projeto quanto na época de Evita, chegando a abandonar a música por alguns anos para escrever o roteiro e dar atenção a cada detalhe, da escalação do elenco até os figurinos que seriam utilizados em cada cena. Lançando com fracasso no mercado internacional e avacalhado pela crítica, o filme chegou ao Brasil nesse ano, em poucas salas, em geral no circuito alternativo. Depois de conferir W.E, entretanto, podemos comprovar que entre erros e acertos, há uma bela história.

Madonna como diretora: atenção aos detalhes
Para o bem ou para o mal, o nome Madonna é mais forte que qualquer coisa que ela faça. Fãs irão assistir e comprar o que ela fizer, preparados para amar, enquanto quem não gosta ou vai se recusar a assistir ou vai assistir apenas para apontar os defeitos. Aposto que muitos críticos já tinha a resenha pronta antes mesmo de irem à première. A mídia brasileira, entretanto, foi mais branda e menos afetada que os comentários dos festivais e apontou o óbvio: Madonna não é um Woody Allen, mas faz um filme com atenção aos detalhes, imagens fortes e boas atuações.

A trama é quase um Julia e Julie com toques mais dramáticos: acompanhamos a história real de Wallis Simpson, plebéia e divorciada por quem o rei Edward VIII abdicou o trono. O romance se tornaria um dos casos mais polêmicos e famosos da história (parte dessa trama é vista do premiado O Discurso do Rei). No presente, acompanhamos a jovem Wally, que sofre por estar em um casamento fracassado até que fica fascinada pela história de Wallis e busca nela o exemplo para mudar de vida. Madonna, então, recheia sua trama com alguns clichês e situações forçadas, como o guarda-costa russo, culto e sensível, por quem Wally se apaixona ou o marido insensível e unilateral, que aparece na trama apenas para humilhar nossa protagonista. No fundo, W.E só ganha força com a história de Wallis e Edward, ao mostrar o outro lado e contar um belo caso de amor, capaz de alterar os rumos de uma nação.

W.E ganha força com a história real
As protagonistas, no fundo, possuem muito da própria Madonna. A cantora escreveu o roteiro quando estava no fim do casamento com o diretor Guy Ritchie, momento em que pipocavam na mídia boatos sobre as adoções feitas pelo casal e brigas constantes. Assim como Wally, Madonna se apegou desesperadamente na história de Wallis em busca da fórmula de um grande amor, tendo acesso as cartas que eles trocavam e estudando tudo sobre o casal. Foi então que ela percebeu que mesmo eles tiveram que aguentar o peso das escolhas e que não havia um final feliz. Nasceu a vontade de contar o “outro lado” da história e mostrar Wallis não como a vilã, mas a vítima da situação. A cena em que Wallis vê seu nome estampado nos jornais e sente-se julgada pelas pessoas que passam nas ruas, lembrar muito da própria Madonna, que sempre teve a vida dissecada pelos jornais e julgada pela opinião publica.  

A interpretação de Andrea Riseborough é um destaque, transformando Wallis em uma figura complexa, cheia de dúvidas e muito verdadeira. Outro ponto positivo é a parte técnica do filme, que mostra a obsessão de Madonna pelos detalhes e um time de profissionais gabaritados, como Arianne Phillips, responsável pelo figurino lindíssimo, indicado aos principais prêmios da categoria. A direção de arte ganha força nas cenas que exaltam o luxo e beleza da vida real. Já a edição pode causar um certo estranhamento inicial, com cortes rápidos e a tentativa de estabelecer um paralelo entre as duas tramas, sem ordem cronológica.

Comparação: W.E verdadeiro e da ficção
Madonna poderia ter feito um filme menor, algo menos pretensioso, como gravar um filme convencional sobre a vida de Wallis. No mundo de Madonna, entretanto, não há espaço para intimismos. Não podemos negar que ela foi ousada em se arriscar com tramas paralelas, narrativa não linear e com momentos delicados, como as cenas de agressão. W.E, dessa forma, é um bom filme, que vai crescendo e nos faz ter muita curiosidade pela história de Wallis e Edward. Se fosse lançado por outro diretor, talvez, o filme não seria massacrado pelos críticos e faria bem mais sucesso. Entre erros e acertos, Madonna revela-se uma diretora e roterista ousada, mas ainda bem menos interessante do que a cantora. A prova disso é o Globo de Ouro de melhor canção, para a bela Masterpiece, tema do filme. 

  

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