24 de janeiro de 2015

American Horror Story - Elenco e personagens encantam, apesar de furos no roteiro


Quando surgiu em 2011, American Horror Story foi encarada como um teste do produtor Ryan Murphy, que na época  aproveitava a repercussão do sucesso Glee, a série do momento. Poucos acreditavam  no projeto, que tinha o objetivo de resgatar as histórias de terror e suspense na televisão, um vazio não preenchido desde o fim de Arquivo X. Com boa repercussão, American Horror se tornou uma referência, abrindo caminho para outras grandes produções de suspense, desde a elegante Penny Dreadful, passando pela acelerada The Stain, até produções que dividem opiniões, como Salem, Sleepy Hollow, As Bruxas de East End, Hemlock Grove e até Hannibal e Bates Motel. Agora, com o fim da quarta temporada, Freakshow, American Horror se consolida como uma das produções mais influentes da TV, apesar de ainda manter problemas na estrutura.

Com a premissa de contar uma nova história por temporada, sempre com cerca de 13 episódios, American Horror muda a trama anualmente, apresentando novos personagens para o mesmo elenco, que conta com ótimos atores em sintonia. Dessa forma, a série se beneficia em poder se adaptar-se aos temas que estão relevância, atraindo novos fãs a cada ano e não caindo no principal problema de séries atuais: com a necessidade de alongar as temporadas, muitas acabam perdendo o ritmo em episódios arrastados ou tramas que duram anos e poderiam ser resolvidas em alguns dias. O próprio Glee de Ryan não escapou dessa situação e chega na sexta e última temporada sem a repercussão e audiência dos primeiros anos.


Dessa forma, já acompanhamos a história de uma mansão assombrada e palco de assassinatos no primeiro ano, um manicômio cercado de mistérios na segunda (e melhor) temporada, um clã de bruxas lutando pela supremacia de New Orleans e um circo decadente de aberrações no quarto ano. O elemento em comum em todas as histórias é o talento de Ryan em criar personagens carismáticos e complexos, que despertam nossa rejeição e afeição na mesma medida, além de colocá-los em situações bizarras, que podem ir desde uma abdução, rituais voodo ou uma cena musical ao som de Lana Del Rey ambientada nos anos 50. Para rechear as tramas e aproximá-las da realidade, também não faltam referências e citações a celebridades da época, casos reais de crimes hediondos ou personagens históricos que aparecem constantemente na série, despertando nosso interesse em conhecer ainda mais detalhes da história. Na época da 'segunda tela', American Horror se beneficia em manter-nos sempre atento aos detalhes, em busca de pistas ou referências externas. 

Para interpretar personagens tão complexos, Ryan conseguiu reunir um elenco de primeira, de dar inveja a qualquer produção na TV e até mesmo no cinema, juntando na mesma cena talentos consagrados como Katy Bathes e Jessica Lange, além de destacar novos rostos como Emma Roberts e Gabourey Sidibe. Entre as descobertas da série, estão Evan Peters, Frances Conroy e Sarah Paulson, que integram o 'elenco fixo' e se destacaram como o assassino Tate, a bruxa fashion Myrtle Snow e a repórter trancafiada no manicômio, Lana Winters. Da quarta temporada, com o maior elenco até agora, Finn Wittrock foi quem se saiu melhor como o desequilibrado Dandy, que oscilava entre Psicopata Americano e Psicose

Entre todos os destaques, a série também marcou o retorno de Jessica Lange ao estrelato, muitas vezes apoiando-se em seu talento como chamariz. Desde que roubou a cena na primeira temporada como a vizinha misteriosa Constance, Jessica protagonizou os outros anos, sempre com personagens marcantes e representando mulheres fortes, que provaram como Lange é uma atriz completa, seja em tocantes sequências dramáticas, cenas musicais (como The Name Game, uma das mais lembradas pelos fãs) ou desfilando lingerie de dominadora sadomasoquista aos 65 anos. Anunciada como última colaboração de Lange na série, Elsa Mars, dona do circo de aberrações, foi a despedida em grande estilo, uma personagem que oscilava entre o egocentrismo e a vontade genuína de proteger seus 'monstros'. A versatilidade de Lange, obviamente, foi reconhecida com indicações ao Globo de Ouro e Emmy em quase todos os anos em que participou da série. 

Se por um lado a alternância de histórias contribuiu para manter a relevância da série, também resultou em seu maior problema: com uma quantidade grande de personagens e tramas paralelas, não é difícil encontrar erros no roteiro que resultam em situações que não são explicadas, personagens que somem quando não estão em destaque e episódios finais apressados, para conseguir concluir a narrativa elaborada. Das temporadas, Coven foi a mais prejudica por oscilações e personagens que praticamente mudavam o objetivo e importância na trama semanalmente, principalmente a personagem de Lange, que hora aparecia abatida por um câncer e em outros momentos simplesmente esbanjava mais vitalidade que todas as bruxas adolescentes. Além disso, a necessidade de ter praticamente uma morte 'surpreendente' por capítulo acaba tirando o impacto da informação e quando chegamos ao meio da temporada já estamos cansados de ver personagens secundários morrendo de forma inexplicável como desculpa para manter o interesse do público. 


Parecendo preocupados com as críticas, a última temporada manteve um ritmo melhor que Coven e brilhou nos episódios em que haviam citações aos casos reais, como aberrações da época ou homenagens a filmes como Freaks. A temporada também ganhou destaque por ser a primeira que estabeleceu conexões com as histórias dos anos anteriores, indicando que, provavelmente, as tramas se ligarão futuramente, com personagens consagrados estabelecendo esses ganchos. Apesar de melhor estruturada, não faltaram críticas, especialmente em alguns episódios que deixaram o suspense de lado e mergulharam em um drama digno de filmes de época, incluindo um cansativo discurso de igualdade social entre as aberrações e a sociedade. 

Com uma quinta temporada já confirmada (com boatos de que será uma história contemporânea sobre Hollywood ou abduções alienígenas) a expectativa é que American Horror consiga lidar com a possível saída de Lange (e ficar sem A protagonista) e encontre uma temática que ainda não tenha sido explorada nos anos anteriores, com situações e personagens interessantes. O próximo ano será decisivo em manter a série como uma das produções mais ousadas da TV e consolidar-se como uma referência, uma vez que cada vez mais produções de suspense e terror ganham as telinhas e a concorrência aumenta a cada ano. Dependerá de Ryan evitar os erros de ritmo e roteiro das últimas temporadas e dar mais do que o público quer: boas atuações, personagens interessantes, situações bizarras e aquela ansiedade causada pelas boas histórias de suspense (e se possível mais Jessica Lange cantando David Bowie, por favor).


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