12 de março de 2012

Porque adorei Mulheres Ricas?


Depois de quase dois meses o programa Mulheres Ricas chegou ao fim na segunda-feira passada. Exibido pela Band durante as férias do CQC, o programa pegou o público de surpresa com  a proposta de “mostrar o dia-a-dia de luxo de cinco mulheres ricas”... quase a versão televisiva da revista Caras. Apesar de aumentar, e muito, o ibope da emissora nesse período, o programa foi muito criticado por não agregar valores culturais e só exibir o consumo desenfreado das protagonistas. Aquele velho (e chato) discurso de “em um país com tata desigualdade social elas deveriam ter vergonha de gastar tanto” foi repetido à exaustação. Sinceramente, adorei Mulheres Ricas e aposto que a maior parte dos críticos nunca assistiram ao programa. Se assistissem, veriam que a maior qualidade de Mulheres Ricas foi não se levar muito a sério e tirar sarro de si mesmo e das protagonistas. 

A primeira questão que me incomoda quando criticam Mulheres Ricas e o discurso de “deveriam mostrar a realidade brasileira”. Desde quando a realidade brasileira é só favela e pobreza?! Hello! (Como diria Val Marchiori). Somos um país desigual, mas temos gente muito rica nesse país: pessoas com poder aquisitivo para fazer o que quiserem, quando querem. Nada mais justo que a TV também mostre a vida deles. Para quem reclamou da falta de conteúdo, o programa até mostrou dois exemplos de superação: Debora Rodrigues e Val Marchiori são mulheres que saíram da pobreza e conquistaram uma posição financeira e social de destaque (ok, não vamos discutir os possíveis métodos...). 

Elas dão a sensação ao telespectador que é possível, quem sabe, um dia fazer parte daquele grupo. Talvez algumas pessoas assistiram ao programa justamente para se imaginarem fazendo parte do “rich man world” (para citar ABBA). Outros, como eu, assistiam para rir das figuras quase caricaturescas que essas mulheres representavam, tipos de ricas bem definidos como a “barbie do botox”, a “emergente grosseira”, a “neurótica”, a “alienada” e a “que não ficou iludida pela fama e fortuna” (aham, cláudia senta lá). 

A arquiteta Brunete era a típica “madame do botox” que só se interessa por rapazes jovens e reclama quando o amor não é correspondido. Iludida e um tanto inocente, ela realmente acreditava que todas eram amigas no programa, enquanto Val destilava seu veneno e vivia xingando-a nos comentários. Lygia, a joalheira, mostrou que mulheres ricas trabalham, e muito, mas também tem tempo para frequentar grandes eventos sociais, usar fantasias sexuais para o marido, presentear os amigos e fazer TODAS as vontades dos filhos mimados (como ela mesmo definiu). Debora Rodrigues é a ex-sem-terra que agora dirige caminhões em corridas e faz questão de dizer que não se ilude com os prazeres da fama (apesar de ter sido quem mais mudou de postura ao longo do programa, indo de “dona de casa comum” para produções glamourosas e até uma sessão de fotos). Narcisa protagonizou momentos divertidos, com sua filosofia de vida... única... e uma aparente falta de coerência nos discursos, como se estivesse sempre alienada, em um mundo paralelo onde repetir “Ai que loucura” e “Ai que absurdo” parece fazer sentido. O sorriso característico para terminar as frases (até as mais tristes) marcou o programa.

Não podemos negar que Val foi o destaque, com o papel da emergente grosseira, que agora tem pavor do passado de pobreza e passa cada minuto do dia tentando provar o quanto é rica. Ela deseja esbanjar uma realidade fake, mostrar que o dinheiro pode comprar qualquer coisa e ter dramas como “meu vestido de festa ainda não chegou da Itália”. A loira é cercada por amigos falsos, que desfrutam da fortuna dela, sem nem disfarçarem o quanto são comprados. Ela mostrou-se indelicada e grosseira, até com as colegas do programa: nos comentários ela tentava alfinetar as amigas, como se precisasse se reafirmar no mundo das ricas. Val, no fundo, representa o pensamento de muitas pessoas, de que não precisa ser esperta ou educada, o importante é ter dinheiro e ser superior aos outros. Com a tacinha de champanhe na mão e roupas de alta-costura modeladas em seu corpo turbinado, ela se tornou um resumo perfeito dos defeitos das novas ricas: consumista, sem cultura e com vontade de humilhar os pobres.  

Mulheres Ricas teve momentos bregas e cenas divertidas que transformaram as protagonistas em celebridades que estapam capas de revistas e sites de fofocas. Enquanto BBB exibe pessoas sem conteúdo querendo ser ricas, prefiro assistir pessoas sem conteúdo que podem e compram Chanel e desfilam por ai fazendo o que a maioria das pessoas tem vontade de fazer e compram o que a maioria dos mortais nunca consiguirá. Foi ótimo para mostrar para muitas pessoas que se acham ricas e poderosas só por "comprar uma tv de plasma, um carro, GPS", que há pessoas realmente ricas e poderosas. Se teremos uma próxima temporada ainda não sabemos, mas foi divertido (e nada instrutivo) acompanhar as protagonistas bebendo champanhe, comprando roupas de grifes e frequentando festas e os lugares da moda. Deliciosamente alienante, divertido e fútil. Que pecado há nisso?

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