31 de julho de 2011

O Mistério de Iamamiwhoami

Vídeos virais, visual excêntrico e talvez a melhor campanha de lançamento de uma artista na era da Internet, podem definir o Iamamiwhoami até agora. Utilizando a tática do mistério como alma do negócio, há cerca de um ano um canal no Youtube chamado Iamamiwhoami começou a postar vídeos bizarros (com cerca de 30 segundos), com uma mulher loira e nenhuma descrição do que seria aquilo. Um mistério começava na Internet e rapidamente começaram os boatos. No começo, pensaram que era algum novo projeto secreto de Aguilera e depois até levantaram o nome de Gaga como responsável, mas Iamamiwhoami era algo bem mais fora do comum. 


No início, os vídeos eram curtos, nomeados com longas seqüência numéricas, mostravam imagens sem sentido (normalmente de paisagens, florestas ou animais) e uma mulher loira entre um frame e outro. Nada que permitisse deduzir muita coisa, muito menos a identidade ou objetivos da loira misteriosa. Nos vídeos mais recentes, postados nos últimos meses, já é possível acompanhar melhor os rumos do projeto. Nomeados com letras ou pequenas palavras, nos novos clipes já  é possível ouvir as músicas (um  pop mais experimental, com ecos de Bjork) e ter melhor noção do visual de Iamamiwhoami, que pode até parecer bizarro, mas está recheado de metáforas visuais e um apuro estético que difere de um projeto amador.


Com cerca de 200 mil exibições em cada vídeo, sem nenhuma divulgação nos meios tradicionais (tv, rádio ou jornais), nenhum CD lançado ou esclarecimento oficial,  o Iamamiwhoami é, até agora, um dos mais instigantes e curiosos “nascimentos” no mundo da música, fruto direto das novas formas de lançar e consumir canções na era da Internet. Trabalhando com o conceito de clipes lançados antes das músicas, o projeto aposta no mistério e no surreal para chamar atenção. Em tempos em que Lady Gaga é considerada A revolucionária da música pop, Iamamiwhoami prova que existem coisas instigantes e interessantes rolando na internet.



24 de julho de 2011

Comentário - A Sangue Frio de Truman


Com A Sangue Frio, Truman Capote inaugurou um novo estilo na literatura e no jornalismo: uma mescla até então inédita do espírito ivestigativo do jornalismo com a análise psicológica dos personagens, definido pelo autor como um “romance de não ficção”. Na trama, vamos acompanhando, detalhadamente, os diversos aspectos e repercussões do assassinato de quatro membros de uma família, numa cidadezinha do Kansas, Estados Unidos. O livro também traça um perfil detalhado dos assassinos: desde problemas na infância, até os desejos mais íntimos que os motivaram a cometer esse crime que chocou a sociedade na época.

Alguns anos atrás, Capote tornou-se figura celebrada, principalmente pelo lançamento da cinebiografia do autor, Capote (2006), que concorreu a diversos prêmios, incluindo o Oscar. Até A Sangue Frio, o autor era mais conhecido por livros de ficção, como Bonequinha de Luxo, participações em roteiros de filmes e pelo convívio direto com a alta sociedade nova-iorquina, incluindo as estrelas da música e do cinema da época. Foi folheando o jornal que Capote deparou-se com a notícia do assassinato da família Clutter, que serviria de embrião para seu livro mais famoso. A idéia inicial do escritor era escrever um artigo sobre como uma cidadezinha se comportaria diante de tal chacina e como as relações na comunidade seriam afetadas pela suspeita, uma vez que o paradeiro dos assassinos ainda era desconhecido. Com a prisão dos criminosos, o texto tomou novos rumos e passou a abordar, paralelamente, os aspectos psicológicos dos assassinos. 

Ao todo, o livro levou cerca de seis anos para ser escrito e, apesar de atualmente questionarem até que ponto Capote não teria “alterado” alguns depoimentos e passagens, o que se tem, no geral, é uma grande reportagem, escrita com a fluência de um romance. Capote consegue narrar de maneira detalhada, mas sem ser cansativa, os ambientes, personagens e situações. 

O destaque da trama não é mais o assassinato em si, o factual, mas o perfil psicológico dos personagens, principalmente dos assassinos: dois ex-presidiários que bolaram um golpe para recomeçar a vida no México. Capote é habilidoso em marcar a personalidade de cada um, dessa forma, Richard Hickicok, o Dick, surge inescrupuloso, grosseiro, extremamente calculista, enquanto Perry Smith revela-se dono de uma alma sensível e ao mesmo tempo capaz de matar uma família inteira por dinheiro.  Essa descrição é capaz de levar o leitor em uma jornada e uma confusão de sentimentos: ao mesmo tempo que percebemos a brutalidade do crime cometido, à sangue frio, vamos, pouco a pouco,  compartilhando os dilemas de culpa e arrependimento dos assassinos. Há também uma aparente imparcialidade na trama, já que nenhum julgamento é feito explicitamente, apenas a narrativa dos fatos como aconteceram, sem opiniões ou criticas por parte do autor. A imparcialidade também é atingida com o relato dos próprios assassinos, uma vez que dá voz para os dois lados envolvidos no fato. Até o titulo “A Sangue Frio” pode ser relacionado com o crime em si, ou à execução dos dois criminosos.

Capote conseguiu transformar uma noticia de jornal em uma analise profunda de seus personagens, narrando de forma continua e estimulante, os diversos aspectos que cercam o fato. Independente se é jornalismo ou literatura, não há como negar que estamos diante de uma grande obra.

11 de julho de 2011

Comentário - Born This Way (Lady Gaga)

Lady Gaga é onipresente: ela está no rádio, na televisão, nos sites de notícias, no youtube... A cantora ficou tão famosa nos últimos anos que nem parece que antes de 2008 ela era praticamente uma desconhecida do grande público. Com Poker Face e Just Dance, a loira conquistou as paradas musicais e nunca mais saiu da mídia, emendando “escândalos” (como a famosa roupa de carne), figurinos bizarros e declarações polêmicas por onde passa. Com o cenário musical ávido por novidades e dominado por cantoras que não faziam nada de novo ou ousado, Gaga surgiu e já foi rotulada como a última revolução do pop, a única capaz de lançar tendência, gerar debate e ainda colocar suas músicas no topo do sucesso.

Depois do sucesso de The Fame Monster (que contou com o hit Bad Romance), Gaga teria a maior provação da carreira até agora: conseguir manter o sucesso e interesse dos fãs e da mídia com o segundo CD de inéditas de sua carreira. Mesmo com a pressão de alcançar os patamares anteriores, Gaga, como boa marketeira que é, não se intimidou e declarou que seu novo álbum seria o “melhor da década”, o “hino de uma geração”. Com o lançamento do aguardado Born This Way no final de maio, percebe-se que o novo trabalho, na verdade, é uma evolução de The Fame Monster, mas está longe de representar uma ruptura ou mesmo uma grande inovação no que a cantora já vinha produzindo.

Dessa forma, o CD aposta no caminho que Gaga já domina, com muitas músicas preparadas para agitar as baladas do mundo todo, com algumas misturas de ritmos e claras referências a outros artistas (é só lembrar da polêmica envolvendo Madonna e Express Yourself). Born This Way começa com muito folêgo, principalmente suas cinco primeiras músicas, mas que vai perdendo o gás depois da segunda metade, recheada com canções feitas sob medida para cumprir as exigências da gravadora e com pouco diferencial entre si, totalmente esquecíveis. Entre os destaques, estão Judas (que lembra muito a estrutura de Bad Romance), em que a cantora discute sobre amar a pessoa errada, Americano, em que Gaga evoca Gogol Bordello, Bloody Mary (a mais madônnica de todas as músicas de Gaga, tanto na letra quanto na melodia) e duas que prometem incendiar as pistas do mundo inteiro: Shibe (com passagens em alemão) e Goverment Hooker. O disco termina com a balada à Shania Twain, You and I e o próximo single da cantora, The Edge of Glory.


Um dos pontos favoráveis do CD é que podemos escutar melhor a voz da cantora, sem tantos efeitos quanto as canções da Kesha, Britney ou mesmo nas primeiras canções de Gaga em The Fame. No quesito letras, Born This Way acaba sendo bem mais pessoal que os outros trabalhos dela, debatendo sobre religião, amor e, principalmente, a necessidade da auto-aceitação, como proclama a faixa-título, que celebra a diversidade sexual. A cantora já declarou diversas vezes que nunca foi uma garota muito popular antes da fama e que sofria por não se encaixar nos padrões estéticos e comportamentais, essa é base de todo disco. Pode até soar um tanto clichê ou como auto-ajuda barata, mas mostra uma tentativa de Gaga em se expor e dialogar diretamente com os anseios de seus fãs, os "monstrinhos".

Diante de tantas expectativas e propagandas, Born This Way não cumpriu a revolução proclamada, mas também não compromete a carreira de Lady Gaga. Se por um lado, temos canções mais pessoais e que buscam trazer elementos de outros ritmos musicais, a sensação é que nenhuma música consegue superar Bad Romance ou Poker Face. Talvez, com mais tempo e sem tanta pressão da mídia e dos fãs, Gaga conseguiria criar um CD ainda mais pessoal e que pudesse, de fato, mostrar mais sobre a mulher que está por baixo do personagem e das roupas bizarras. Agora é esperar pela turnê (que pode passar pelo Brasil no ano que vem) e pelos clipes que a loira lançará.