Romeu e Julieta é uma história tão clássica que é possível lembrar vários filmes, peças, musicais, sátiras e até animações que tiveram base no clássico de Shakespear sobre famílias rivais e jovens apaixonados que levam o amor as últimas consequências. Poucas adaptações da obra, entretanto, foram tão emblemáticas quanto a versão do diretor autraliano Baz Luhrmann (1996), que trouxe a tragédia dos Capuletos e Montéquios para os dias de hoje, transformando a briga de famílias em uma guerra de gangues. A “modernização”, porém, fica só no visual, já que o roteiro apresenta os versos líricos do livro na integra. Poderia ser incoerente, mas nas mãos de Luhrmann os versos ganham ainda mais força e sentido com o visual extravagante.
Luhrmann usa histórias tradicionais com visuais modernos |
A edição frenética, o uso das cores para transmitir sensações (do colorido saturado ao monocromático) e a trilha sonora recheada de canções pop dá um ar de “videoclipe da MTV“ para o filme, que ressalta ainda mais a juventude dos protagonistas e consegue dialogar diretamente com o público atual. Usando com maestria recursos visuais e sonoros, o diretor consegue criar imagens tão fortes que já fazem parte do coletivo popular, como a belíssima cena do encontro de Romeu e Julieta com um aquário entre eles enquanto a festa acontece na mansão dos Capuletos.
O elenco é encabeçado por um Leonardo Di Caprio ainda jovem e carismático. O Romeu do ator parece sem perspectivas, rumo ou ideais, até que encontra a razão de sua existência: o amor que nutre pela bela Julieta (Clarice Daines), jovem da família rival e considerada "inimiga". A atriz Clarice Daines cria uma Julieta inocente, quase etérea, mas que consegue manusear uma pistola quando necessário sem perder a feminilidade. Os protagonistas convencem nos papéis de jovens perdidamente apaixonados, capazes de brigar com suas famílias para consumarem seu amor. O elenco de apoio também da conta do recado com muitos rostos que seriam vistos em obras posteriores de Luhrmann.
O amor em Romeu + Julieta é levado aos extremos |
Alguns elementos presentes nesse filme seriam vistos depois em Mouling Rouge, a obra-prima do diretor responsável por trazer os filmes musicais de volta as telas de cinema e aos prêmios. Algumas cenas, como a chuva que cai azulada no momento em que Romeu é exilado da cidade, lembra, e muito, os momentos em que a cortesã Satine deixa seu amado Christian para evitar uma briga no cabaré.
Nos filmes de Luhrmann, principalmente em Romeu + Julieta, a história é conhecida, previsível, mas a forma como é contada é tão inovadora que desperta o interesse do espectador. Em R+J é até possível torcer, genuinamente, por aquele casal fadado ao final mais apoteótico e dramático de todos: morrer por amor. No mundo de Luhrmann o amor é sempre assim: intenso, dramático, proibido e sem medo de abraçar os clichês. Entre cores berrantes, músicas pop e poesia lírica, Romeu + Julieta fica marcado como uma das melhores versões do clássico de Shakespear